Ao buscar as empresas gaúchas mais afetadas pela recuperação judicial da Americanas, a coluna topou com uma constatação: a renegociação das dívidas da gigante varejista tem potencial para provocar grande estrago no mercado editorial.
Na lista de 7.967 credores aos quais a Americanas deve R$ 41,2 bilhões, há 93 editoras. São grandes empresas - com pendências equivalentes a seu tamanho - e também pequenos negócios, para os quais esperar muitos meses por um pagamento que deve ser reduzido à metade na renegociação pode ser desastroso.
O grupo das 10 maiores dívidas identificadas pela coluna soma pendências de R$ 29 milhões. De novo, alguma relevante pode ter escapado ao levantamento, pelo grande número de listadas. Há duas gaúchas: a CDG Edições, de Alvorada (R$ 2,4 milhões) e a caxiense Culturama (R$ 840,5 mil). À coluna, presidente da Culturama, Fábio Hoffmann, afirma que não tem "alta concentração" de vendas para a Americanas:
— Somos fornecedores de publicações infantis, como revistas em quadrinho da Disney. Trabalhamos com a rede há seis anos. É um cliente importante, mas não temos uma alta concentração nas Americanas, não é o nosso principal cliente. O valor é alto, sim, mas vamos aguardar, pois está tudo no campo da incerteza ainda. Temos dois meses para nos posicionarmos sobre a RJ. A rede tem conversado conosco, nos retornam. Sobre o fechamento de novos pedidos, vamos aguardar. Vejo uma insegurança jurídica muito grande, pois já tem muitos processos rolando 'por fora' (além da RJ).
Esse mercado já havia sido prejudicado pelo encolhimento das megalivrarias - Fnac saiu do Brasil, Saraiva e Cultura também estão em recuperação judicial. Agora, enfrentarão novo impacto com a interrupção dos pagamentos de uma grande - para proporções nacionais - compradora de livros. E além de empresas que publicam livros, há forte impacto nas que produzem cadernos e material escolar, um dos carros-chefe das vendas dessa época na Americanas.
A coluna segue tentando contato com a CDG Edições, que atua com o nome comercial de Citadel, é muito focada em temas de auto-ajuda e edita livros como Mais Esperto do que o Diabo e Marxismo Americano, descrito como "uma bíblia para bolsonaristas".
As maiores pendências com editoras
Foram listadas as com passivo perto ou acima de R$ 1 milhão
Intrínseca | R$ 5,9 milhões
Shwarcz | R$ 5,3 milhões
Rocco | R$ 3,7 milhões
Arqueiro | R$ 3,1 milhões
FTD | R$ 3 milhões
Nova Fronteira | R$ 2,9 milhões
CDG Edições | 2,4 milhões
Melhoramentos | R$ 1,1 milhão
Culturama | R$ 840,5 mil
Globo | R$ 838 mil
*Colaborou Camila Silva