A Americanas entregou a lista de credores do seu processo de recuperação judicial nesta quarta-feira (25). A varejista informou montante total de R$ 41.235.899.286,62 em dívidas, com 7.967 credores.
O maior credor da companhia é o Deustche Bank, com um saldo de US$ 1 bilhão, equivalente a R$ 5,2 bilhões. O banco alemão, porém, informou que não tem exposição direta de crédito à varejista brasileira — de acordo com uma fonte, o Deutsche atua como agente fiduciário (trustee) de dois títulos de dívida (bonds) que a Americanas emitiu no exterior no segundo semestre.
Logo depois vem o Bradesco, com R$ 4,8 bilhões a receber da companhia. Com o Santander Brasil, os débitos ultrapassam os R$ 3,6 bilhões, enquanto o BTG Pactual é credor de R$ 3,5 bilhões e o BV de R$ 3,3 bilhões.
Em nota, o BV informou que os valores que a Americanas disse dever à instituição estão inflados, e que vai reiterar a informação à varejista. Ainda segundo o banco, no último dia 11, quando a Americanas informou um rombo contábil inicial de R$ 20 bilhões, a exposição do BV era de cerca de R$ 206 milhões.
De acordo com a lista, a Americanas deve ainda R$ 2,9 bilhões ao Itaú Unibanco, R$ 1,3 bilhão ao Banco do Brasil, R$ 509 milhões ao Daycoval e R$ 501 milhões à Caixa Econômica Federal (CEF). A empresa também tem débitos com o Banco ABC Brasil, de R$ 415,6 milhões, com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de R$ 276 milhões, e com o Banco da Amazônia, de R$ 103 milhões.
A lista apresentada pela varejista ainda não deve ser definitiva. Como a empresa não estava preparada para ingressar com recuperação judicial, ainda há informações sendo levantadas pela companhia.
A crise nas Americanas se tornou pública depois que o ex-CEO Sergio Rial — que estava no cargo havia pouco menos de 10 dias — divulgou em 11 de janeiro que foram identificadas "inconsistências contábeis" nos balanços dos últimos anos. Oito dias depois, a empresa fez o pedido de recuperação judicial, informando ter dívidas de aproximadamente R$ 43 bilhões.
A lista de credores da Americanas apresenta, além de bancos e instituições financeiras, fornecedores de serviços e produtos. Dentre os destaques dessa categoria estão Samsung, com R$ 1,2 bilhões a receber, a Apple com saldo de R$ 98,6 milhões, o Google, com R$ 94 milhões, e o Facebook, com R$ 11,4 milhões.
Com fabricantes de chocolates, a dívida também é alta. São R$ 259 milhões em dívidas com a Nestlé, e R$ 14,8 milhões com a Ferrero Rocher. Para a Ambev, que tem entre seus principais acionistas o trio de investidores de referência da Americanas (Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles), a varejista deve R$ 4 milhões.
No domingo (22), Lemann, Sicupira e Telles emitiram uma nota pública em que se posicionaram pela primeira vez desde o começo da crise. Um trecho em particular incomodou os bancos: o que sugere que as instituições não teriam se atentando ao rombo contábil, ou seja, teriam parte da culpa.
"Ela (auditoria PwC), por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade", afirmou o trio no comunicado do fim de semana.
Segundo executivos que acompanham o caso, o posicionamento até aqui dos acionistas de referência da Americanas enfureceu os bancos credores da varejista, que começam a falar nos bastidores em possíveis retaliações. Algumas instituições já teriam começado a reduzir o crédito a outras empresas sob controle do trio, como a própria Ambev.
Ainda de acordo com os dados da lista de credores da recuperação judicial da Americanas, além dos credores externos, a varejista deve R$ 974,8 milhões à fintech do grupo, a Ame Digital. Entre os credores da recuperação judicial, o documento coloca a Ame na classe III, de credores sem garantias reais. É a mesma classe em que estão os bancos, que são os maiores credores da companhia.