Mesmo depois de receber R$ 130 milhões para absorver as 12 unidades nacionais da Fnac depois que a rede de origem francesa decidiu sair do Brasil, a Livraria Cultura seguiu enfrentando problemas para pagar fornecedores. Na quarta-feira à noite, informou ao mercado que pediu recuperação judicial, uma chance para manter as atividades e renegociar os débitos. Caso a Justiça aprove o pedido, a empresa terá então seis meses de prazo para apresentar um plano para pagamento das dívidas. A empresa não confirma, mas a estimativa de mercado é de que as pendências alcancem R$ 70 milhões.
Há certa dificuldade de avaliar com antecedência a viabilidade de um plano de recuperação porque a Livraria Cultura, que tem capital fechado – portanto não é obrigada a divulgar esses dados – não informou os números do desempenho financeiro no ano passado. Em 2016, o faturamento havia ficado em R$ 360 milhões. No setor editorial, circula a informação de que a situação piorou
e a empresa estaria operando no prejuízo.
Mas da solução para a crise financeira da maior rede nacional de venda de livros depende boa parte do futuro do mercado editorial, especialmente não relacionado à publicação de best sellers. Logo depois do anúncio do negócio com a Fnac, chegou-se a criar a expectativa de a Cultura ampliar a área de venda de eletrônicos, inclusive nos pontos herdados da rede francesa, mas isso nunca se confirmou. Na semana passada, a empresa brasileira fechou sua última unidade no Rio de Janeiro, no Fashion Mall, em São Conrado.
No comunicado a fornecedores e clientes, a Cultura informa que "diante da premente necessidade de reestruturar nosso passivo, não nos restou outra opção que não iniciar um processo de recuperação judicial". Também sinaliza que seu plano é se tornar mais digital, como havia indicado a compra da Estante Virtual, há 10 meses: "Já somos uma empresa mais enxuta, eficiente e preparada para enfrentar os desafios do varejo na era do e-commerce. Estamos sintonizados à ideia de que nossas lojas não vendem apenas produtos e serviços, mas também experiências que transformam a vida de nossos clientes."
Conforme fontes ligadas ao negócio consultadas pela coluna, não há planos de reduzir a atual rede de 15 unidades – uma das quais no Bourbon Country, que recentemente passou por um enxugamento no tamanho. A intenção é operar com uma rede mais enxuta e mais sustentável num momento de crise econômica e dificuldades no mercado editorial como um todo. O fechamento das lojas do Rio teria sido determinado pelo "desempenho" de ambas.