Batalhas judiciais antes de leilões de estatais são quase uma regra do jogo, mas no caso da Corsan a artilharia jurídica afeta um escudo de defesa mais frágil. Diferentemente dos três braços da CEEE - distribuição, transmissão e geração - e da Sulgás, o processo de privatização foi iniciado tardiamente e exigiu mudança de modelo aos 40 minutos do segundo tempo - ainda daria tempo de marcar, mas seria muito desafiador.
Por isso, no mercado essa é uma oportunidade vista como arriscada, especialmente pela dúvida sobre a validade dos contratos com os municípios. Mesmo assim, há informações de que ao menos três grupos estão dispostos a disputar a Corsan de fato vá a leilão no dia 20.
Conforme informações de mercado, já teriam propostas prontas para apresentar até a próxima quinta-feira (15) a Aegea, a Equatorial e o Perfin. A primeira é a maior empresa do setor no Brasil, que venceu a maior parte do leilão da Cedae, no Rio de Janeiro, e a parceria público-privada (PPP) que reúne nove municípios da região metropolitana de Porto Alegre, que originou a Ambiental Metrosul. É controlada pela Equipav, uma empresa de engenharia que vem focando no setor de infraestrutura e tem participação acionária da Itaúsa.
A Equatorial é a companhia que venceu o leilão da CEEE-D e opera no Estado desde junho de 2021. Na época, já admitia interesse em saneamento. Em setembro de 2021, arrematou a concessão de serviços de saneamento do Amapá. A Equatorial é uma "corporation", ou seja, uma empresa sem controlador definido, que tem entre seus maiores acionistas Squadra Investimentos, Opportunity (fundado por Daniel Dantas) e o fundo de pensão canadense CPPIB, além do BlackRock, um dos maiores do mundo.
A Perfin é uma gestora de investimentos muito focada em energia e infraestrutura. Fundada em 2002, foi comprada em 2007 por José Roberto Ermírio de Moraes Filho (leia-se Votorantim) e Ralph Gustavo Rosenberg Whitaker Carneiro. Depois outros sócios entraram, inclusive outros fundos e bancos, como o BTG Pactual. Em setembro, a Perfin foi uma das compradoras da usina a carvão Pampa Sul, em Candiota.
Voltando aos riscos, do ponto de vista dos potenciais compradores não está no radar a exigência de um órgão público para coordenar o saneamento no Estado, que ampara a liminar suspendendo o leilão na sexta-feira (11) - outras decisões contrárias à venda já foram derrubadas na Justiça. O que inquieta é a situação dos contratos com as prefeituras, porque no saneamento, o poder concedente está com os municípios.
Além dos 198 municípios que não assinaram aditivos para que a companhia siga operando o serviço, os que existem teriam problemas jurídicos que vão do formato pouco detalhado, que não inclui a forma de execução da meta - um requisito do Marco Legal do Saneamento - à adaptação à mudança da forma de privatização da companhia.