A Companhia Florestal do Brasil arrematou o braço de geração da CEEE, a CEEE-G, por R$ 928 milhões. A operação teve ágio de 10,93% — a venda tinha preço mínimo de R$ 836,6 milhões. O leilão foi realizado na sede da B3, em São Paulo, na tarde desta sexta-feira (29).
Duas empresas apresentaram propostas: a Companhia Florestal do Brasil, vinculada ao grupo siderúrgico CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), e a Auren Energia (empresa criada pela Votorantim e o CPP Investments e que participou do certame por meio da sua subsidiária, a Cesp).
Ambas deram os primeiros lances no valor mínimo, levando o leilão para negociação em viva-voz. A disputa foi acirrada e foram necessárias oito rodadas até a batida do martelo.
O valor pago será pela fatia de 66,23% do capital total da CEEE-G, que pertencia ao governo do Estado. O restante tem 32,66% da Eletrobras, 0,83% de prefeituras e 0,49% no mercado.
Além do montante, a companhia vencedora terá de arcar com outros encargos. Terão de ser pagos mais R$ 1,66 bilhão ao governo federal pela outorga, ou seja, o direito de operar as usinas e as centrais geradoras hidrelétricas.
A CEEE-G possui cinco usinas hidrelétricas, oito pequenas centrais hidrelétricas e duas centrais geradoras hidrelétricas, com potência própria instalada de 909,9 megawatts. Também possui outros 343,81 megawatts vindos da participação em projetos por meio de consórcios ou sociedades.
Depois de uma tentativa frustrada, em leilão que não teve interessados em março deste ano, o braço de geração é a última parte da CEEE a ser privatizada. No ano passado, Equatorial Energia comprou a parte de distribuição da estatal, por R$ 100 mil. Em julho, foi a vez da área de transmissão, vendida por R$ 2,67 bilhões para a CPFL.
No palco da B3, o governador do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Júnior, definiu o leilão como um "momento histórico" e deu boas-vindas à empresa que chega ao Estado. Rodrigo Wallau, diretor presidente da CEEE, parabenizou os vencedores e destacou o processo de privatização pelo qual passou a companhia:
— Finalizamos essa trilogia, um processo longo que começou em novembro de 2019, com o segmento de distribuição, depois transmissão, e agora fechando com a geração — disse.
A CSN não participou da coletiva de imprensa após o leilão. GZH tentou contato, mas não obteve retorno. Em nota, a companhia disse que a CEEE-G "será uma importante plataforma de desenvolvimento de novos projetos de geração de energia, além de consolidar importantes sinergias com as aquisições das PCHs Sacre II e Santa Ana e UHE Quebra Queixo anunciadas recentemente".
Ainda segundo a CSN, a aquisição da geradora gaúcha terá papel de fortalecer o segmento de energia da companhia e de avançar na autossuficiência de energia elétrica.
Considerada a quinta maior consumidora de eletricidade do país, conforme a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, a CSN tem buscado diversificar seus negócios. Segundo fontes da área, um dos objetivos da companhia é apostar com mais força no mercado livre de energia.
— A CSN é um grupo muito forte. Tem um braço de energia, mas não é tipicamente um player do mercado. Por ter esse negócio, e agora com essa concessão, passa a mudar de patamar com um volume de megawatts mais relevante para usar em demanda própria e o restante no mercado livre — avalia Fernando Marchet, CEO da Bateleur, sobre o resultado do leilão.
Preço sob debate
Em conversa com a imprensa após o desfecho do certame, representantes do governo do Estado reforçaram que todo o recurso das privatizações encaminhadas desde a gestão de Eduardo Leite tem sido direcionado para investimentos em diversas áreas.
E comentaram sobre os questionamentos em relação ao preço mínimo exigido pela CEEE-G. A cifra foi alvo de denúncia junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e de ações legais durante a semana na tentativa de cancelar o leilão.
— Temos a convicção de que, juridicamente, não há nenhuma ilegalidade. Os valores foram feitos exatamente nos termos em que o próprio Tribunal de Contas havia respaldado — afirmou Eduardo Cunha da Costa, procurador-geral do Estado.
— Nada melhor do que o leilão de hoje para referendar o valor da companhia e acho que esse fato encerra qualquer discussão — afirmou Leonardo Busatto, secretário de Parcerias do Estado.