O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Não deu bilhão. No bater do martelo do leilão da B3 que concluiu, na tarde desta sexta-feira (29), a privatização do setor energético no Rio Grande do Sul, a venda da última fatia – a responsável pela geração da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE-G), saiu por R$ 928 milhões. O valor oferecido pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por meio da Companhia Florestal do Brasil, representa um ágio de 10,93% sobre os R$ 836,6 milhões do preço mínimo pretendido, mas fica 54,5% abaixo da avaliação da consultoria BBI, por exemplo, que estipula em R$ 1,7 bilhão o valor patrimonial da, agora, ex-estatal gaúcha.
O curioso, entretanto, é que o grupo vencedor do certame, este sim, vai desembolsar mais de bilhão. Isso acontece porque além dos R$ 928 milhões – referentes à compra de 15 hidrelétricas, participações em outras 8 unidades e 5 ativos eólicos – pagará mais R$ 1,84 bilhão pelo chamado bônus por outorga, anotado em R$ 1,66 bilhão no edital. O detalhe é que as regras determinam que ágio idêntico ao da oferta ganhadora (no caso 10,93%) seja também aplicado sobre a cifra pré-fixada para a outorga.
Sendo assim, de imediato, a Companhia Florestal terá de fichar quase R$ 2,8 bilhões pela compra de uma capacidade instalada equivalente a 1.253,07 megawatts (MW) – quase suficiente para abastecer à Região Metropolita de Porto Alegre – sem contabilizar dívidas e investimentos de curto, médio e logo prazos. Seria o caso da construção prevista de um novo complexo eólico com potencial para 52,5 MW e R$ 250 milhões em investimentos.
O trâmite é necessário, conforme explica à coluna Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, espécie de observatório do setor no país, para arcar com a renovação da concessão das usinas, por mais 30 anos, junto à União. Sales comenta que esse seria o motivo para a falta de interessados no pregão, inicialmente, agendado para março, cujo preço mínimo pretendido pelo governo gaúcho era R$ 1,260 bilhão, ou seja, 26,3% acima do valor obtido, nesta sexta-feira, na B3.
– O vencedor leva o direito de renovar a concessão por 30 anos, mas, terá de pagar percentual idêntico ao que ofertou como ágio. Detalhe: o ganhador precisa arcar com esse desembolso imediato, tanto do valor da outorga e o da compra das ações, mas estar preparado para investir, quitar dívidas, saldar o fundo de aposentadoria, entre outros fatores – pontua Sales.
* Colaborou Mathias Boni