Nas duas primeiras entrevistas formais como futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad avisou que terá grande foco em parcerias público-privadas (PPPs) e concessões.
Ao menos na segunda, concedida nesta quarta-feira (14) à GloboNews, mencionou essa intenção ao responder a uma pergunta sobre o anúncio do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de que as privatizações vão acabar, mas já havia feito o mesmo poucas horas depois, ao apresentar oficialmente Gabriel Galípolo como secretário-executivo, uma espécie de vice-ministro.
Ao apresentar Galípolo na terça-feira (14), Haddad disse que os dois se aproximaram porque ambos têm interesse em concessões e PPPs. Nesta quarta, lembrou que foi autor do projeto que regulamentou essas parcerias no Brasil, a pedido do ex-ministro Guido Mantega, e que o ProUni, desenhado (em parceria) com sua mulher, Ana Estela, também é uma PPP.
Observou que, apesar dos avanços, ainda há "embaraços" à formação dessas parcerias que os estudos de Galípolo podem ajudar a remover. Ponderou, ainda, que a participação da União em PPPs não precisa "ocupar espaço fiscal", ou seja, embutir grandes gastos. Afirmou que pode ser sob a forma de dar garantias, assumir "uma pequena inadimplência" ou até entrar com algum recurso, mas com valores baixos.
— Há um conjunto enorme de projetos sustentáveis que podem ser concedidos à iniciativa privada: aeroporto, estrada, adotando princípios como modicidade tarifária — afirmou.
Cobrado pela PEC da Transição de R$ 168 bilhões, que tem provocado alta na taxa de juros futuros pela percepção de aumento da dívida, Haddad atribuiu a responsabilidade pelo tamanho do pedido aos gastos eleitoreiros de Jair Bolsonaro, e afirmou:
— Vamos tomar as medidas necessárias para fechar esse rombo. Nos governos do presidente Lula, nunca teve décifit. Vai ser fácil? Não vai. Mas vamos administrar esse problema que não foi criado por nós.
Haddad talvez tenha cometido um ato falho: ao justificar o valor da PEC, voltou a dizer que foi validado pelo grupo temático de Economia da equipe de transição - que tem a presença de André Lara Resende e Pérsio Arida - o conceito de manter o nível de despesas em relação ao PIB entre o último ano do governo Bolsonaro e "o primeiro ano" de Lula. A proposta foi aprovada no Senado com dois anos de excepcionalidade.
Além disso, sugeriu que Arida e Lara Resende podem vir a compor um conselho de economia ligado diretamente à Fazenda. Essa era uma hipótese discutida há semanas, mas com o colegiado ligado diretamente à Presidência da República.
Ao longo da entrevista (que ainda não havia sido concluída até a publicação desta nota), a bolsa deu sinais de "despiora" - já havia aberto em queda principalmente devido à aprovação de mudanças na Lei das Estatais. Trafegava na órbita de 102 mil pontos, foi a 103 mil. Fechou estável (+0,2%), na mesma situação do dólar (-0,27%).