"Vai acabar privatizações" (sic) foi a frase exata do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que disparou o gatilho de uma queda abrupta do Ibovespa, principal índice da bolsa de valores. Antes, investidores e especuladores haviam reagido mal à confirmação de Gabriel Galípodo - um nome do mercado - para a secretaria-executiva do Ministério da Fazenda.
Apesar da linha quase vertical desenhada no gráfico da B3, que chegou a "perder o chão", percentualmente a bolsa não chegou a despencar. Apenas aprofundou a queda da véspera, fechando em baixa de 1,71%. O mercado de juros futuros também reagiu imediatamente, mas encerrou as negociações em relativa estabilidade. O dólar ficou estável (+0,07%).
Era para ser um discurso de agradecimento à equipe de transição, mas Lula aproveitou para dar recados ao mercado. Afirmou que "nem tem mais empresa para vender" e que investimentos externos serão bem-vindos porque "tem trabalho, tem projetos", mas "não para comprar empresas (estatais), porque não estarão à venda".
Ao mencionar as críticas à intenção de indicar Aloizio Mercadante sofreu com especulações de que seria presidente do BNDES, Lula acabou confirmando o nome do coordenador dos grupos temáticos da transição para a presidência do banco público. Avisou, ainda, que o foco do BNDES em seu governo será em inovação, tecnologia, inclusive com "fomento" (leia-se incentivo, ou seja, uso de dinheiro público).
Desde que começaram os sinais de indicação de Mercadante, há especulação de que o novo governo pretenda mudar a Lei das Estatais. O artigo 17 veda a indicação para o comando de empresas pública de pessoas que participem de "estrutura decisória de partido político" ou tenham atuado em "organização, estruturação e realização de campanha eleitoral".
Mercadante foi coordenador do programa na campanha de Lula. Ele mesmo negou a intenção de mudar a Lei das Estatais, e agora começa a ficar clara a tentativa de viabilização da indicação: o PT pretende usar um precedente do governo Bolsonaro: a indicação de Flávio Almeida Abrahão para a diretoria de privatizações e concessões do BNDES, que atuou pelo PSL na campanha de 2018. Nesse caso, deu certo.