Embora essa eleição envolvesse temas ainda mais importes do que a economia, durante a campanha o assunto esteve muito presente. Só que foi mais sob a forma de apresentação de resultados do que de planos para o futuro.
Com a decisão da sucessão presidencial em segundo turno, para que os brasileiros escolham de maneira mais informada seu presidente, é hora de explicar como pretendem fechar as contas, para não ceder à tentação de tirar mais impostos dos bolsos exauridos dos contribuintes.
Ambos prometem não só manter o valor de R$ 600 do Auxílio Brasil, como acrescentar valores. No caso de Lula, seria mais R$ 150 por criança com menos de seis anos a cada família. No de Bolsonaro, R$ 200 a mais para quem conseguir emprego. Parece o famoso "quem dá mais". Mas o que está previsto no orçamento da União entregue para aprovação ao Congresso, é um pagamento mensal de R$ 405. E nenhum dos dois explicita como fará para bancar essa promessa.
Outro assunto que terá de ser cobrado dos dois candidatos é seu modelo de âncora fiscal. Ambos – Lula mais explicitamente, Bolsonaro pela voz de Paulo Guedes – pretendem acabar com o teto de gastos. Guilherme Mello, um dos formuladores do programa do petista, já afirmou que há intenção de "criar um novo arcabouço fiscal". Mas não quis detalhar, até a votação em primeiro turno, porque seria "uma ameaça à credibilidade da campanha".
O ministro da Economia disse que já prepara uma nova âncora fiscal. Economistas que conhecem os projetos – seriam duas alternativas – avaliam que a mudança foi "mal comunicada", mas ambas são tecnicamente boas. Boa parte ainda sustenta que o teto de gastos é um mecanismo melhor do que meta de superávit ou de dívida porque se foca em um indicador realmente sob controle do governo, ou seja, a despesa.
Outra definição essencial até 30 de outubro é sobre reformas. Economistas consideram a tributária a mais viável em um novo governo petista, inclusive porque Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal e um dos cérebros das duas propostas de emenda constitucional com as bases dessa mudança, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Lula. Há ceticismo sobre a administrativa, porque Lula tem sindicatos de servidores federais na sua base de eleitores, mas economistas ligados à campanha do petista falam em novo conjunto de regras para futuros funcionários públicos.
Nas 48 páginas do programa de governo de Bolsonaro que está disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as duas palavras – reforma tributária – não aparecem juntas. Mas o texto afirma que o atual presidente "continuará a implementar as mudanças e reformas estruturantes (...), com o objetivo de melhorar a eficiência dos gastos públicos". Depois, acrescenta que um dos objetivos é "simplificar a legislação e reduzir a carga tributária".