Para surpresa de zero analistas que acompanham a Petrobras, o atual presidente, José Mauro Coelho, foi demitido na noite desta segunda-feira (23). Será sucedido pelo secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade —, mais um da equipe de Paulo Guedes a ascender de cargo, depois da ida de Adolfo Sachsida para o Ministério de Minas e Economia.
O nome de Paes de Andrade já havia circulado na época em que fracassou a indicação de Rodolfo Landim e Adriano Pires. O candidato a ser o quarto presidente da Petrobras ainda terá de passar pela aprovação do conselho de administração da estatal, mas já vem acompanhado da pergunta: fica no cargo até quando?
Se seguir o histórico de seus antecedentes, até o próximo anúncio de reajuste de preços, seja um mega-aumento, como o que abateu o general Joaquim Silva e Luna, ou o moderado como o feito na breve gestão (cerca de 40 dias) de Coelho. Na semana passada, ao ser perguntado sobre o futuro do futuro ex-presidente da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro foi irônico e, do ponto de vista do ocupante do cargo, desanimador:
No mercado, era conhecida a busca por outro nome para o cargo ao menos há uma semana. Como Paes de Andrade já havia sido cogitado antes, dá uma mostra de que a tarefa de encontrar outra alternativa não foi fácil. Coelho era braço direito do também demitido ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, portanto cedo ou tarde teria o mesmo destino.
Agora, a bomba de gasolina vai para as mãos de Paes de Andrade, que foi colega de Sachsida no #teamGuedes. Isso significa, também, que integra a turma de liberais que Guedes levou ao ministério. Vai aceitar algum tipo de controle de preços? Difícil imaginar. Mas dado o fato de que o retrospecto mostra que cai quem reajusta, e o quase ex-secretário aceitou mesmo assim, um cenário de represamento é menos impensável.
Com o que o quase ex-secretário especial certamente concorda é com o ensaio de privatização da Petrobras. A coluna ouviu, de um experiente observador do mercado e das movimentações na estatal, que o papel de Paes será "fazer o que Guedes quer". Mas é suficientemente racional e preparado para saber que isso não se faz a cinco meses das eleições e a sete meses do final de um mandato presidencial.
Em resumo, é mais um jato de fumaça de Bolsonaro para tentar esconder a incompetência do governo para lidar com uma situação que envolve, sim, uma pressão internacional de preços, mas que se fosse bem administrada, teria outro peso na economia. É mais um passo para vilanizar a maior estatal e maior empresa do Brasil, que só no primeiro trimestre vai render R$ 24 bilhões ao governo federal. E confirma a vocação do atual presidente: em vez de buscar estabilidade, é um gerador incansável de instabilidade.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.