Mais uma alta nos combustíveis, mais uma baixa no alto escalão do governo Bolsonaro. Desta vez, não é um economista respeitado ou um general da reserva no comando da Petrobras: trata-se do almirante que ocupava o Ministério de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Mas o roteiro é o mesmo: com foco em "dar uma resposta" ao prudente aumento de 8,87%, o presidente candidato à reeleição derruba quem vê como responsável pelo que considera inadmissível. Com os preços oscilando em todo o mundo, quantas baixas no governo ainda serão provocadas por eventuais novas altas de preço?
Então, não importa se o reajuste é demasiado, como o que derrubou o general Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras há menos de dois meses, ou se é prudente como o primeiro anunciado pela nova direção que tomou posse há menos de um mês. A mensagem presidencial é "não mexam no meu queijo eleitoral", ou seja, nos preços dos combustíveis, que aditivaram a inflação acumulada em 12,13% em 12 meses.
A escolha do substituto diz tanto quanto a demissão do almirante: o novo ministro será Adolfo Sachsida, até agora no comando da Assessoria Especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia, ou seja, indicação de Paulo Guedes. Na verdade, Sachsida antecedeu Guedes como Posto Ipiranga: foi o primeiro economista a ser considerado guru do então candidato Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. E continua fidelíssimo, ao contrário dos vários arrependidos que deixaram o governo ou o apoio ao capitão-presidente.
Então, a substituição é uma volta por cima de Guedes, que havia sido desprestigiado nas duas trocas de comando da Petrobras depois de sacrificar no altar do mito o amigo Roberto Castello Branco, que indicara ao cargo. Agora fica mais clara a famosa frase do ministro da Economia no meio da confusão gerada pela fracassada indicação de Rodolfo Landim e Adriano Pires para o comando da Petrobras: "Estou sem a luz". Fez questão de mostrar publicamente que não tinha nada a ver com a confusão. Anteviu o destino de Albuquerque.
Mas também é uma armadilha: Sachsida é tido como liberal. Como vai administrar a sanha de Bolsonaro diante de aumentos cada vez mais próximos da eleição? Nos últimos dias, o petróleo vinha caindo ante os lockdowns na China, mas justo nesta quarta-feira (11) voltou a subir 2,6%, para US$ 105,12 na metade da manhã. Além disso, o dólar acumula alta de 12% só em abril, depois de ter caído 19% no primeiro trimestre. Muito por efeito do que ocorre nos Estados Unidos e na China, mas também influenciado pelo novo episódio de crise institucional patrocinada por Bolsonaro.
O que o pré-Posto Ipiranga vai fazer? Derrubar a direção da Petrobras escolhida por Albuquerque há menos de um mês? Acabar com a política de preços da estatal? Interferir em um segmento literalmente inflamável? Pelo tom das declarações depois da nomeação, Sachsida está muito confiante no futuro. Mas basta ver o retrospecto recente para perceber que quem se relaciona com a Petrobras no governo Bolsonaro está preso a um barril de petróleo com um rastilho de pólvora pronto a ser acendido. Se ainda não estava claro, o presidente-candidato acabou de desenhar.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.