Depois de toda a confusão que marcou o início da terceira gestão da Petrobras no governo Bolsonaro, havia dúvidas: o novo presidente da estatal, José Mauro Ferreira Coelho, rezaria pelo Credo de seus antecessores, alinhado às políticas de mercado e favorecendo a concorrência ou faria alguma mudança drástica?
Pelo discurso que acabou de pronunciar na solenidade de posse, não tem Kinder Ovo no ninho de Coelho: vai seguir com os desinvestimentos, tanto em campos maduros quanto em refinarias e gasodutos — citou tanto o Brasil-Bolívia quanto a Transportadora Sulbrasileira de Gás, que faz a conexão com o Rio Grande do Sul — e manter preços de mercado. Se inflexão houve, foi no aspecto social, ao qual deu ênfase no final de seu discurso.
Mas Coelho fez suspense. Falou sobre o passado e o presente da Petrobras antes de garantir que, no futuro, a estatal vai manter o rumo atual:
— A prática de preços de mercado é condição necessária para a criação de um ambiente de negócios competitivos, para a atração de investimentos e de novos agentes econômicos no setor para garantir o abastecimento. Tal cenário leva ao aumento da concorrência, com benefícios para o consumidor brasileiro.
Apesar de ter usado as palavras certas, não ajudou a embalar as ações da Petrobras, ue subiram mais na véspera do que até o meio da tarde desta quinta-feira (14), quando foi dada posse ao novo comando. Sim, pode ser o velho e bom "sobe no boato, cai no fato", ou seja, ao hábito de antecipar os movimentos de investidores e especuladores. Mas pode ter sido reflexo do discurso sem grandes ênfases, apenas para entregar a expectativa.
Coelho também procurou esclarecer sua posição favorável à ampliação do refino no país: frisou que a Petrobras "não está saindo" do segmento e que seu objetivo é "atuar com ativos que estejam próximos à oferta de petróleo e gás natural e do mercado consumidor":
— Com o intuito de dar continuidade à promoção da concorrência no refino, em linha com o planejamento estratégico, vamos manter os desinvestimentos em refino.
Mas também disse que a Petrobras vai se posicionar "entre os principais refinadores no mundo" e que haverá pesados investimentos em refino, citando a adaptação das unidades para reduzir a produção do diesel S500, com maior teor de enxofre e mais poluentes, para o S10, com menos emissões.
A aparente manutenção do império da racionalidade na Petrobras terminou com uma foto oficial convocada com protocolos de distanciamento e pedindo aos participantes que se dispersassem observando esse cuidado. Que assim seja.
Nota de rodapé: quem, como a coluna, deixou o vídeo da posse rodando pôde ver, em seguida, a reprise da posse do antecessor de Coelho, Joaquim Silva e Luna, há menos de um ano, em 19 de abril de 2021.
Como foi o processo de mudança na Petrobras
O Ministério de Minas e Energia enviou à Petrobras uma nova lista de indicados com a inclusão dos nomes dos candidatos à presidência do conselho de administração e à presidência-executiva da empresa.
A intenção do governo era fazer uma votação "em bloco", ou seja, aprovar todo o conselho de uma vez, a partir da lista de sete indicados pela União. Nesse plano, restariam três eleitos pelos acionistas minoritários e um pelos empregados da estatal.
Na antevéspera do leilão, analistas minoritários que detêm mais de 5% do capital encaminharam pedido de voto múltiplo. Essa tentativa havia sido feita no ano passado, quando houve a primeira troca de comando da Petrobras, sem suceso.
Nesta quinta-feira (14), foi realizada a primeira reunião do novo conselho, que confirmou a indicação de José Mauro Ferreira Coelho para a presidência-executiva, em substituição a Joaquim Silva e Luna.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.