Só terminou por volta de 2h da madrugada desta quinta-feira (14) a assembleia-geral de acionistas da Petrobras que definiu a escolha do novo conselho de administração da estatal.
As quase 12 horas de discussão terminaram com vitória parcial dos acionistas minoritários, que conseguiram emplacar o voto múltiplo e elegeram um conselheiro a mais, de três para quatro.
Foi um processo "muito tumultuado", conforme um dos participantes. Houve até erro de cálculo na primeira apresentação da contagem de votos. Mas o que mais retardou o processo foi mesmo a queda de braço entre investidores privados e a União. A vitória foi parcial por dois motivos: em primeiro lugar, porque a União segue com maioria de seis cadeiras, em tese suficiente para fazer eventuais mudanças na política de preços da estatal; em segundo, porque o governo Bolsonaro evitou a blindagem extra da estatal, inclusive na área social, que está na mira do Planalto em ano de eleições.
Quando o voto múltiplo é acionado, a lista apresentada pela União é desfeita. São eleitos os nomes mais votados individualmente entre os nomes indicados pelo controlador e pelos minoritários. Assim, os investidores privados emplacaram dois nomes — Juca Abdalla e Marcelo Gasparino — na disputa com os nomes da União, por meio do voto múltiplo, e outros dois — Francisco Petros e Marcelo Mesquita —, por votação em separado dos detentores de ações ordinárias e preferencialistas, respectivamente.
Da lista apresentada pelo governo, foram confirmados o gaúcho Márcio Weber, indicado à presidência do conselho, José Mauro Coelho, indicado à presidência-executiva, Murilo Marroquim, Sônia Villalobos, Luiz Henrique Caroli e Ruy Schneider. Ficaram de fora Carlos Lessa Brandão e Eduardo Karrer, ex-executivo das empresas de Eike Batista, como a coluna havia antecipado.
Depois da confusão com a indicação, seguida de rejeição, da dupla Rodolfo Landim e Adriano Pires, agravada pelo ataque de Jair Bolsonaro à Lei das Estatais, que protege a Petrobras do que o mercado vê como "aventureirismo", cresceu a desconfiança dos minoritários com o futuro da petroleira, o que ajudou a dar força para aumentar a presença no conselho. Ainda nesta quinta-feira (14), ocorre a primeira reunião dessa nova formação do colegiado, que vai eleger seu presidente e confirmar — ou não, o que é improvável, mas não impossível — o nome de José Mauro Coelho para a presidência-executiva.
Como é o processo de mudança na Petrobras
O Ministério de Minas e Energia enviou à Petrobras uma nova lista de indicados com a inclusão dos nomes dos candidatos à presidência do conselho de administração e à presidência-executiva da empresa.
A intenção do governo era fazer uma votação "em bloco", ou seja, aprovar todo o conselho de uma vez, a partir da lista de sete indicados pela União. Nesse plano, restariam três eleitos pelos acionistas minoritários e um pelos empregados da estatal.
Na antevéspera do leilão, analistas minoritários que detêm mais de 5% do capital encaminharam pedido de voto múltiplo. Essa tentativa havia sido feita no ano passado, quando houve a primeira troca de comando da Petrobras, sem suceso.
Nesta quinta-feira (14), ocorre a primeira reunião do novo conselho, que só então vai avaliar a indicação de José Mauro Ferreira Coelho para a presidência-executiva, em substituição a Joaquim Silva e Luna.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.