À medida que se conhece os detalhes da indicação de Adriano Pires à presidência da Petrobras, no terceiro comando da estatal em três anos e três meses, vai se delineando a perda de prestígio do ministro da Economia, Paulo Guedes.
A mais evidente é a escolha de um economista que defende o alinhamento de preços dos combustíveis dentro do país à cotação internacional do petróleo, mas admite mecanismos que evitem mega-aumentos traumáticos, como o aplicado pela atual gestão da estatal. Essa posição contraria declarações recentes de Guedes, que tem se manifestado contra "ferramentas" como essas.
Embora tenha sido encaminhada formalmente pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, a indicação de Pires tem origem na Casa Civil de Ciro Nogueira, com apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ambos ligados ao partido Progressistas e, por extensão, ao Centrão. Analistas veem a nova troca como mais uma vitória da coalizão que banca o mandato do presidente Jair Bolsonaro.
Os mecanismos que evitam alta excessiva de preços usam recursos públicos têm de usar recursos para atingir esse objetivo. No caso do já aprovado no Senado, as fontes previstas são os royalties e participações especiais (no caso do pré-sal) pagos ao governo pelas empresas que produzem petróleo no Brasil, e a parte dos dividendos da Petrobras devida à União.
Como diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o economista costumava ser acionado para atuar como consultor em projetos na área de energia no Congresso, daí a proximidade a esse núcleo político. Um desses casos foi o formato de privatização da Eletrobras, em que Pires foi "ponto fora da curva" e defendeu a fórmula que exigia construção de térmicas a gás em regiões sem gasoduto.
A troca foi encaminhada enquanto Guedes estava em Paris, participando de reuniões para encaminhar a adesão do Brasil à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conhecida como "clube dos ricos".
Guedes fez questão de deixar claro que não deu sua bênção à escolha. Tem dito que o único presidente que indicou à presidência da Petrobras foi Roberto Castello Branco, demitido há um ano por Bolsonaro. Na segunda-feira (28), em entrevista para o programa Roda Viva, da TV Cultura, Castello Branco deixou claro que o episódio ainda não foi superado:
— É uma questão de preferência pessoal dele, não de falta de conhecimento. Pelo contrário, ele é um excelente economista. Mas o comportamento e as preferências dele são diferentes das minhas. Ele escolheu um caminho e eu escolhi outro.
Como será o processo de mudança
O Ministério de Minas e Energia enviou à Petrobras uma nova lista de indicados para o conselho de administração com a inclusão do nome de Adriano Pires para a presidência-executiva e a manutenção de Rodolfo Landim para a presidência do conselho.
O passo seguinte seria a aprovação dessas e das demais indicações ao conselho na assembleia-geral marcada para 13 de abril. Além dos sete nomes escolhidos pelo governo federal, há três nomeados pelos acionistas minoritários e um pelos empregados da estatal.
Depois da assembleia-geral de acionistas, a direção executiva é analisada em reunião do novo conselho de administração. Só então o novo presidente toma posse. Na mudança anterior, Roberto Castello Branco chegou a dar entrevista ainda no cargo, aguardando a substituição.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.