Em três anos e três meses, será o terceiro comando da Petrobras, com a indicação de Adriano Pires para a presidência-executiva e a de Rodolfo Landim para a presidência do conselho de administração, se ambos forem confirmados em assembleia-geral extraordinária no dia 13 de abril.
Era uma troca esperada desde o mega-aumento dos combustíveis, mas dado o perfil dos indicados, especialmente Pires, dificilmente a política de preços da estatal será virada de cabeça para baixo. É possível esperar, sim, um alinhamento atenuado aos valores internacionais do petróleo.
Na segunda-feira (29), a queda nas ações da Petrobras (2,63% nas ordinárias e 2,17% nas preferenciais) foi atribuída à mudança, mas os papéis já vinham caído com o tombo na cotação do petróleo. O que incomoda os investidores não é o nome de Pires, muito identificado com o mercado financeiro, mas a sequência e a forma das trocas, que atropelam as regras de governança de empresas com ações negociadas em bolsa. Já o nome de Landim é, por assim dizer, menos unânime.
A mudança que Pires e Landim podem tocar na Petrobras já foi desenhada no Senado com ajuda de um líder da oposição, Jean-Paul Prates (PT-RN). A regra prevê a criação de uma conta para compensar grandes altas e grandes baixas do petróleo com menor impacto nas bombas. É uma alternativa que Pires defende publicamente há anos, desde que o reajuste diário dos combustíveis - sim, chegou a ser assim - provocou a queda de Pedro Parente, primeiro presidente da Petrobras depois dos governos petistas.
Será muito difícil que Pires faça algo muito diferente do que vem recomendando há décadas, ou seja, a manutenção da paridade de preços. O economista é a pessoa que mais falou sobre a Petrobras nos últimos 30 anos e tem uma biografia a preservar. É um especialista respeitado no mercado e entre as empresas privadas que atuam no setor de petróleo no Brasil. Portanto, é improvável que dê um "cavalo de pau" na política de preços da empresa.
Pires se aproximou do governo Bolsonaro, surpreendendo ao assumir, como ele mesmo caracterizou à coluna, um "ponto fora da curva" no debate sobre a privatização da Eletrobras. Enquanto até integrantes da equipe econômica manifestavam reservas sobre o formato que incluiu exigência de construção de cinco termelétricas abastecidas a gás natural em regiões onde não há gasodutos, o futuro presidente da Petrobras viu "medidas de desenvolvimento regional" e uma oportunidade de "dar maior diversidade à matriz elétrica".
Então, não há expectativa de queda drástica nos preços de combustíveis com a nova troca de comando, mas Pires deverá evitar barbaridades como reajustes de 18,8% no preço da gasolina, 24,9% no no diesel e 16,6% no gás de cozinha. Até especialistas contrários a subsídios ou contas para amortecer os repasses consideram que esse foi o erro fatal da gestão de Joaquim Silva e Luna.
Nesta terça-feira (29), as ações da Petrobras abrem em alta de até 2,6% no caso das preferencias, porque o mercado tem exatamente essa perspectiva. A alta pode ser atribuída ao anúncio do novo presidente porque a cotação do petróleo tipo brent cai mais quase 5%, agora para US$ 106, depois de despencar 9% na véspera. Quando o preço do barril cai, as ações de petroleiras tendem a acompanhar o movimento.
Como será o processo de mudança
O Ministério de Minas e Energia já enviou à Petrobras uma nova lista de indicados (veja abaixo) para o conselho de administração com a inclusão do nome de Adriano Pires e manutenção do nome de Rodolfo Landim para a presidência do conselho - chegou a circular a versão de que haveria mudança na indicação de Landim para a presidência-executiva.
O passo seguinte seria a aprovação dessas e das demais indicações ao conselho na assembleia-geral marcada para 13 de abril. Além dos sete nomes escolhidos pelo governo federal, há três nomeados pelos acionistas minoritários e um pelos empregados da estatal.
Depois da assembleia-geral de acionistas, a direção executiva é analisada em reunião do novo conselho de administração. Só então o novo presidente toma posse. Na mudança anterior, Roberto Castello Branco, demitido por Bolsonaro, chegou a dar entrevista ainda no cargo, aguardando a substituição.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.