O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, disse nesta terça-feira (29) que a estatal não pode fazer política pública nem partidária. Também afirmou que o Brasil "não pode correr riscos de tabelar preços de combustíveis". A declaração foi feita durante discurso em evento do Superior Tribunal Militar (STM). Para ele, o fato de as empresas internacionais não estarem se interessando em leilões no setor no país se deve ao fato de o mercado ficar com "medo de intervenção no preço da empresa".
— Todo mundo se recolheu — disse o presidente da companhia, referindo-se a leilões realizados no ano passado.
— Empresas que tabelaram combustíveis tiveram perda de capacidade de investimento — afirmou o presidente da estatal aos militares. — Essa dívida "monstra" da Petrobras foi de tabelamento de preço.
Com o anúncio de sua demissão feito na segunda-feira (28) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, Silva e Luna reservou-se a dizer aos jornalistas que o motivo de sua saída do cargo é "complexo":
— Vou passar por um período de silêncio. Pretendo conversar com toda a imprensa, colocar informações e tirar dúvidas, até pela reputação da empresa que pode estar sendo arranhada — respondeu, ao confirmar que fica no cargo até o dia 13 de abril.
Silva e Luna assumiu a presidência em abril do ano passado, no lugar de Roberto Castello Branco, demitido pelo mesmo motivo: crise em razão do aumento do preço dos combustíveis. Para o lugar do militar, foi indicado o economista Adriano Pires, também contrário à interferência do governo na estatal. A indicação de Pires ainda precisa ser aprovada pela assembleia de acionistas da estatal.
As soluções tomadas até o momento para mitigar o aumento do preço dos combustíveis, como a aprovação do PLP 11, ainda não tiveram efeitos nos preços, segundo Silva e Luna. Para ele, isso acontecerá com o fim do conflito no leste europeu e a recuperação econômica da pandemia da covid-19.
Em relação ao ano passado, Silva e Luna apresentou dados de que a variação do preço na bomba, no ano inteiro de 2021, foi de R$ 0,92 no valor de responsabilidade da Petrobras nos custos.
Em relação à crise da Ucrânia, ele falou que a empresa precisou realizar um reajuste enquanto a companhia verificava se a situação se estabilizaria.
Abastecimento
O general Joaquim Silva e Luna afirmou que a empresa não exerce mais o monopólio e que precisa praticar preços de mercado. A poucos dias de deixar o cargo, ele reforçou o que vem falando insistentemente nos bastidores:
— A aplicação de preços de mercado garante o abastecimento do país.
Ele explicou que outros importadores não trazem cargas para o mercado brasileiro se a Petrobras praticar preços abaixo do observado lá fora, e que por isso é necessário manter os preços dos combustíveis alinhados com o mercado externo.
— É preciso que o abastecimento deixe de ser uma preocupação e passe a ser uma oportunidade para outros agentes — disse.
Apesar de o executivo afirmar que os preços da empresa são alinhados ao mercado internacional, importadores reclamam de defasagem em relação ao Golfo do México, parâmetro para os preços dos derivados no Brasil.
Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), porém, com a queda do preço do petróleo nesta terça-feira no mercado externo, a defasagem nos portos brasileiros atualmente está zerada para a gasolina e é de apenas 3% em relação ao diesel.
Sociedade
Em recado indireto a Bolsonaro, Silva e Luna afirmou que, passados 25 anos da abertura do setor de petróleo e gás natural, a Petrobras ainda tem dificuldade de explicar para a sociedade que precisa operar como uma empresa privada, já que compete com outras petroleiras no mercado interno e internacional. Dessa maneira, justificou Silva e Luna, a estatal não pode fazer política pública nem partidária, o que, segundo o general, "tem gente que não entende".
A falta de comunicação com a sociedade sobre o preço dos combustíveis teria sido um dos argumentos de Bolsonaro para o anúncio da demissão do militar do cargo.
Silva e Luna lembrou que, em 2018, a empresa recebeu R$ 6,8 bilhões do governo para segurar os preços do diesel e acabar com a greve dos caminhoneiros, que chegou a parar o país, dando a entender que, como segue os preços do mercado, uma redução deveria vir novamente do governo, e não da estatal.
Destacou ainda que as decisões na Petrobras não são monocráticas e que existem 21 órgãos de controle fiscalizando suas ações, sendo uma das empresas mais controladas do mundo, afirmou.
— Decisões tomadas são coletivas, não há lugar para aventureiros — afirmou Silva e Luna, destacando que, pelo desempenho dentro das regras do livre mercado, a estatal recebeu no ano passado nove prêmios de conformidade e governança.