Desta vez, não é a coluna que está apontando o objetivo eleitoral do presidente Jair Bolsonaro na terceira troca no comando da Petrobras em três anos e três meses. O recado veio direto de Joaquim Silva e Luna, demitido ontem do cargo:
— (A Petrobras) Tem responsabilidade social? Tem. Pode fazer política pública? Não. Pode fazer política partidária? Menos ainda.
As declarações foram feitas em um seminário no Superior Tribunal Militar, quando o general da reserva mostrava as regras constitucionais, legais e de governança que obrigam a Petrobras a repassar as altas da cotação do petróleo aos preços dos combustíveis. Afirmou, ainda, que tabelar preços de combustíveis envolve riscos à estatal e ao país:
— Empresas ou países que tabelaram preço de combustíveis tiveram perda de capacidade de investimento. Esse é um risco que o Brasil não pode correr.
Procurado para falar com a imprensa depois de sua exposição em tom um tanto exasperado, disse que prefere "ainda" ficar em silêncio. Mas prometeu:
— Pretendo conversar com toda a imprensa, toda a mídia, mais informações, tirar algumas dúvidas, (...) até pela reputação da empresa que pode estar sendo arranhada.
Embora sempre no positivo, as ações da Petrobras desenham um gráfico de eletrocardiograma na manhã desta terça-feira (29), o dia seguinte da troca no comando da Petrobras. Momentos de alta de quase 3% sucedem outros de quase estabilidade, com avanço de menos de 0,5%. Mas durante toda a manhã, os papéis preferenciais (que têm preferência na distribuição de dividendos, ou seja, que dependem dos ganhos da estatal) sobem mais do que os ordinários (que dão direito a voto e asseguram o controle da União).
Interlocutores do presidente indicado, Adriano Pires, afirmam que o economista deixou clara sua posição a respeito da manutenção da política de preços a Bolsonaro, em reunião realizada domingo à tarde. Conforme essas informações, a maior preocupação de Bolsonaro foi se assegurar de que teria "canal direto" com o novo presidente da Petrobras.
Como será o processo de mudança
O Ministério de Minas e Energia já enviou à Petrobras uma nova lista de indicados (veja abaixo) para o conselho de administração com a inclusão do nome de Adriano Pires e manutenção do nome de Rodolfo Landim para a presidência do conselho - chegou a circular a versão de que haveria mudança na indicação de Landim para a presidência-executiva.
O passo seguinte seria a aprovação dessas e das demais indicações ao conselho na assembleia-geral marcada para 13 de abril. Além dos sete nomes escolhidos pelo governo federal, há três nomeados pelos acionistas minoritários e um pelos empregados da estatal.
Depois da assembleia-geral de acionistas, a direção executiva é analisada em reunião do novo conselho de administração. Só então o novo presidente toma posse. Na mudança anterior, Roberto Castello Branco, demitido por Bolsonaro, chegou a dar entrevista ainda no cargo, aguardando a substituição.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.