Quem é Adriano Pires, o indicado do presidente Jair Bolsonaro para a presidência da Petrobras? Ele é economista, diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), foi professor-adjunto do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ e atuou na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Mas quais são as ideias de Pires para os combustíveis? Em novembro, ele falou ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. Na ocasião, a gasolina estava mais cara do que agora. O petróleo estava em US$ 85, abaixo dos US$ 110 de agora, mas o dólar estava bem mais alto. Na fala de Pires, fica claro o posicionamento contra a intervenção política na Petrobras e o congelamento de preços. Porém, defendeu o uso de políticas públicas, como a criação de mecanismos para evitar o impacto da volatilidade nas bombas.
- Não adianta o presidente ficar reclamando da Petrobras, falar que vai privatizá-la, uma série de declarações; os governadores também falar sobre congelar ICMS. O governo já congelou durante três meses o PIS/Cofins. Isso tudo é medida paliativa, que não ataca o cerne da questão. O cerne da questão é tratado com política pública. Lá atrás, teve uma tentativa, no final do governo FHC, criar a Cide, um imposto que seria alto quando o barril estivesse mais barato, e baixo quando o barril estivesse caro, para estabelecer um colchão que permitisse que a sociedade não fosse atingida de uma maneira tão rápida nesses aumentos ou nesses períodos extraordinários. Mas a Cide nunca funcionou direito porque o próprio governo PT a descaracterizou, transformando-a em um imposto arrecadatório em vez de um imposto regulatório - disse ele na ocasião.
Além do vale-gás, Pires é a favor da criação do fundo de estabilização, que serviria de colchão financeiro para amenizar disparadas de preços, especialmente do diesel, que tem impacto forte em cascata na inflação. Na entrevista à Gaúcha, ele citou que os recursos poderiam vir, inclusive, dos dividendos pagos pela Petrobras ao governo federal no momento da divisão dos lucros entre os acionistas. Sendo estatal, a União é a que recebe a maior quantia sempre. Para fechar, também se mostrou favorável à política de desinvestimentos da Petrobras, que inclui a venda de ativos.
Especialmente nas medidas de curto prazo, as ideias de Pires são parecidas com as do general Joaquim Silva a Luna, também indicado por Bolsonaro há um ano na ocasião de uma disparada de preços. Aparentemente, mexer na Petrobras dá recado do presidente à população de que está desgostoso, mas, na prática e para o mercado que conhece Pires, não muda tanta coisa assim.
No mercado, a recepção do nome de Pires é positiva, pelos posicionamentos conhecidos e pelo conhecimento que tem do setor. Acredita-se que manterá a política de preços de paridade de importação, mas com a criação mesmo de um mecanismo de amortecimento. Essa é a aposta, inclusive, de João Carlos Dal'Aqua, presidente do Sulpetro, sindicato que representa os postos de combustíveis no Rio Grande do Sul. Em tempo, a colocação de Bolsonaro vem na semana em que distribuidoras avisam os postos que o diesel terá novo aumento, que chega a superar 5%, devido à elevada importação do combustível.
Para o analista de mercado Wagner Salaverry, sócio da Quantitas Asset, a troca não se justifica racionalmente. Segundo ele, o que se espera de um CEO de empresa foi feito nos últimos dois anos por Silva e Luna e Roberto Castello Branco, o anterior: melhora dos resultados operacionais, redução do endividamento, incremento forte do pagamento de dividendos aos acionistas, incluindo o próprio governo, que tem 36,75% das ações.
- O novo presidente tem um histórico acadêmico e profissional sólido, muito bem visto pelos investidores e credores. Parece difícil que ele mude as atuais práticas da companhia, definidas após todos os casos de corrupção do passado. A única razão da troca do CEO parece ser um movimento de distração da opinião pública, que pode reduzir a pressão enquanto aguarda o novo movimento de preços do CEO recém colocado. Se ele tiver sorte e os preços caírem lá fora, o governo federal dirá que fez o movimento certo.
O nome de Pires e de outros para a diretoria terão que ser aprovados em assembleia, marcada para 13 de abril.
Relembre a entrevista:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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