O mercado financeiro está mesmo em clima de ressaca de Cinzas, depois do Carnaval fora de época. O dólar dá mais um um salto de 2,5% e é cotado a R$ 4,928 nesta segunda-feira (25). Depois de outro salto de 4% na sexta-feira (22), a cotação que se aproximava de R$ 4,50 retomou trajetória de alta.
Os motivos vão da inquietação com a alta de juro mais acentuada nos Estados Unidos à confrontação do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), que acentua o quadro de crise institucional no Brasil, agravado nesta segunda-feira (25) por declarações do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira da Silveira, também com o STF como alvo.
Entre as causas apontadas por analistas, também aparece o temor com a situação da covid na China. Além do nó logístico provocado em Xangai por restrições para tentar conter o contágio, agora há inquietação relacionada a um possível confinamento em Pequim, a capital do país. Para completar o quadro "segunda-feira de Cinzas" no mercado financeiro, a bolsa cai 1,23%, basicamente pelos mesmos motivos.
Havia expectativa de que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) do dia 4 de maio pudesse considerar a baixa do dólar com suavizante das projeções de inflação. Embora não contribuísse para baixar os preços, que subiam cotados na moeda americana, a valorização do real ao menos amenizava os repasses. Por isso, a volta do câmbio ao patamar de R$ 5 — com alto risco de retornar ao nível acima dessa barreira — é um complicador de uma situação inflacionária que já não estava fácil de administrar.
O peso da instabilidade política havia se reduzido desde setembro do ano passado, quando chegou a seu auge, mas voltou a ser citado como influenciador de preços desde a decisão de Bolsonaro de confrontar o STF, até agora sem resposta no mesmo tom. Assim, a pacificação entre os poderes negociada por Michel Temer durou pouco mais de sete meses.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, pondera que "é inegável que os últimos dias foram de forte tensionamento institucional". Além da "graça" concedida por Bolsonaro, que "vai se tornar uma fonte adicional de ruídos entre as duas instituições e que está longe de um desfecho", Perfeito considera ainda "mais preocupante (...) a tensão criada entre o ministro (Luís Roberto) Barroso, do STF, e as Forças Armadas sobre a lisura das urnas eletrônicas.
— Esse assunto cria um clima de instabilidade forte para o pleito de outubro e é central para muitos investidores internacionais que veem na estabilidade democrática um ponto fundamental pra investimentos de longo prazo — pondera o economista.