Na troca anterior, as ações da Petrobras subiram, a despeito da instalação de uma porta giratória na presidência da maior empresa do Brasil e das especulações sobre a adoção de algum tipo de controle de preços.
Nesta terça-feira (24), day after da quarta indicação para o comando da estatal, as ADRs (recibos de ações) negociadas em Nova York caíram cerca de 2% e, na bolsa brasileira, desabaram mais de 4% na abertura, chegaram a moderar a queda mas voltaram a tombar: no final da manhã, tanto os ordinários quanto os preferenciais caem mais de 4%.
O que aconteceu, o mercado não gostou de Caio Paes de Andrade, novo indicado do governo Bolsonaro para o cargo? Não, desta vez, parece ter "comprado" a versão de que vem, sim, intervenção na Petrobras. E o mais inesperado, capitaneada por ex-assessores liberais do ministro da Economia, Paulo Guedes, que se vendeu como o mais liberal de todos os que já ocuparam seu cargo. A justificativa já está pronta: não haveria mudança na fórmula chamada Paridade de Preços de Importação (PPI), apenas ganharia condicionantes.
Há duas versões para o que é chamado informalmente de "banda do barril" no mercado. Uma seria uma banda de prazo: a Petrobras só poderia reajustar preços em um determinado intervalo. O mais citado seria de cem dias, em um período em que faltam 130 dias para a eleição de 2 de outubro. Muito conveniente.
Há uma alternativa mais parecida com a "banda cambial" que vigorou no Brasil entre 1994 e 1999: um intervalo de preços. Neste caso, a mais mencionada é que estabeleceria a faixa de US$ 85 a US$ 125 para o barril de petróleo. Mas o grau de discricionariedade é tanto que pode ser essa ou outra, completamente diferente.
O que importa, aqui, é o mecanismo: se o tipo brent se mantiver nesse intervalo, a Petrobras não poderá fazer reajustes na refinaria. Só poderia fazê-lo se cotação ultrapassasse o teto da banda (isso se o governo Bolsonaro não decidir furar mais um teto, claro).
Falta, claro, resolver a grande incógnita dessa equação: o risco de desabastecimento de diesel. Como se sabe, o Brasil depende da importação desse combustível para suprir o mercado. Hoje, empresas privadas importam diesel e concorrem com a Petrobras. Caso a estatal freie reajustes e mantenha seu preço artificialmente baixo, ninguém vai querer importar por preço maior porque também não haverá mercado para um diesel mais caro, como já ponderou à coluna Márcio Couto, coordenador de pesquisa da FGV Energia (leia clicando aqui).
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.