O mercado não acredita: as ações ordinárias (dos acionistas que têm poder sobre o comando da estatal, como a União) da Petrobras sobem incríveis 5,3% — as preferenciais não vêm muito atrás, com alta de 3,6%.
Para analistas, porém, cresceu a possibilidade de o governo Bolsonaro adotar controle de preços de combustíveis a partir da troca do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, por Adolfo Sachsida, até agora assessor direto do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Albuquerque se desgastou com a tumultuada troca de comando da Petrobras há menos de um mês mas era visto como a última barreira entre o ímpeto intervencionista de Jair Bolsonaro e as regras legais e de governança que obrigam o cumprimento da famosa política de paridade de preços da estatal (veja detalhes abaixo). Guedes também é contra, mas já cansou de dizer que a estatal petroleira é assunto das Minas e Energia, não da Economia,
Sachsida é assessor especial do ministro — cargo comparável ao de um secretário especial, por sua vez equivalente ao comando de ministérios em governos anteriores, pela concentração de poder na Economia. É visto como ainda mais bolsonarista do que Guedes, portanto disposto a transformar em realidade qualquer pedido do presidente. Tem antecedentes nesse sentido. E o candidato à reeleição está determinado a impedir que a disparada no preço dos combustíveis prejudique sua campanha.
Na Esplanada, há especulações sobre uma medida legal para permitir o controle de preços. A informação que circula é de que o atual presidente da Petrobras — ex-braço direito de Albuquerque — está em Brasília com sua assessoria jurídica. Seria preciso mudar outras legislações e até o estatuto interno da Petrobras.
Mas Bolsonaro não está interessado em formalidades: quer resultados. Afinal, nesta quarta-feira (11), a inflação acumulada em 12 meses bateu em 12,13%. E, para lembrar, essa é a média. Há famílias que experimentam uma alta de preços ainda mais elevada, o que azeda o humor de qualquer eleitoral.
Então, já não se trataria do velho jogo de Bolsonaro de jogar para a torcida e criar um responsável pelo aumento para levar a culpa pela disparada de preços. Teria cansado de malhar espantalhos que coloca na Petrobras para não mudar nada. E, é claro, como uma mudança profunda na estratégia de precificação dos combustíveis envolve muito trabalho e muitos interesses, um ensaio de controle de preços - ainda que não saísse de papel - desempenharia papel melhor da campanha eleitoral.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.