Um mês depois do ataque da Rússia à Ucrânia, a guerra já provocou tsunami nos preços dos combustíveis no Brasil, elevou custos de produção e logística e, agora, espalha temor sobre estoques de alimentos mundo afora.
Como o Brasil é grande produtor e exportador de alimentos, o maior ganho em dólares com vendas ao Exterior ajuda a valorizar o real, que engatou reação graças à alta do juro.
É muito difícil usar a palavra "positivo" aplicada a um conflito que gerou ao menos 3,5 milhões de refugiados, provocou a morte de alguns milhares e tem cenários apocalípticos, especialmente em Mariupol, uma das cidades ucranianas mais castigadas por bombardeios. Mas na guerra em que sanções econômicas são usadas como arma e provocam estilhaços em todos os países pelo impacto no custo de vista, ao menos há um efeito que suaviza a conta para o Brasil, que é a volta do dólar para o patamar abaixo dos R$ 5.
Na quarta-feira (23), a moeda americana fechou na cotação mais baixa dos últimos dois anos. Isso não se deve apenas à expectativa de maior ganho com exportações decorrente da guerra, até porque o real começou a reagir bem antes do ataque, porque o juro subiu a ponto de tornar mais atrativos investimentos no Brasil.
Em 30 dias, o mundo mudou, como detalha o colega Rodrigo Lopes, que viu o horror de perto. E uma das áreas mais impactadas foi a economia, não só pelo efeito da guerra e das sanções, mas com decisões inéditas ao menos desde a Segunda Guerra Mundial, como a neutralidade da Suíça e a contenção armamentista da Alemanha.
Passado um mês, o petróleo vive forte volatilidade, com quedas e altas acentuadas, o que transformou a Petrobras em uma gigante frigideira com seu presidente, o general Joaquim Silva e Luna no centro, e faz brasileiros pagarem mais de R$ 10 por um litro de gasolina.
Mas a preocupação que mais cresce, 30 dias depois do primeiro ataque, é com o estoque global de alimentos. Rússia e Ucrânia são grandes produtores de trigo, milho e cevada. Essa produção não consegue ser escoada pelo embargo aos portos russos e pela invasão e quase destruição dos ucranianos. Rússia e Belarus – país vizinho que não entrou em guerra, mas também enfrenta sanções por dar apoio aos russos – respondem por boa parte da produção global de fertilizantes.
O resultado é que alguns fertilizantes já subiram 40% nesse período, enquanto o trigo aumentou cerca de 21% e a cevada, 33%. Na Ucrânia, não há como cultivar a próxima safra em meio a bombardeios, inclusive de civis. Nos demais países, há risco de queda na quantidade colhida nos campos, com menor uso de fertilizantes. O diretor-executivo do Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU), David M. Beasley, caracteriza o risco como "sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial".