Na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que deve levar a taxa Selic de volta a dois dígitos depois de cinco anos, o dólar comercial fechou em R$ 5,27, cotação mais baixa em cinco meses. As verdinhas caíram 6,84% do primeiro dia útil do ano até esta quarta-feira (1°), dia em que quase não saíram do lugar: oscilaram só 0,07%, encerrando em R$ 5,276.
Sim, é uma relação causal: a elevação do juro no Brasil é o principal motivo para a baixa no câmbio. É uma espécie de efeito colateral, mas que auxilia a tarefa do Banco Central (BC) de combater a inflação alta.
Neste início de ano, há elevação no investimento estrangeiro no mercado de capitais, também chamado de "capital especulativo". É bom lembrar que tem natureza e ambições diferentes do investimento direto, destinado ao setor produtivo. Mas houve recuperação nos dois indicadores, também com direito a polêmicas estatísticas.
Dados da B3, a bolsa de valores do Brasil, mostram "entrada" de R$ 28,14 bilhões no mercado de capitais até 27 de janeiro. Na estatística precisa do BC, porém, está registrado ingresso líquido (resultado positivo de entradas e saídas) de US$ 1,6 bilhão em investimento em ações e fundos de investimento até 21 de janeiro. Como não há taxa de câmbio que explique a diferença, analistas a atribuem à movimentação de recursos estrangeiros que já estavam no Brasil.
A alta do juro funciona como ímã para o chamado "capital especulativo" porque representa outra forma de ganho para o investidor estrangeiro. Em uma simplificação, se o ganho esperado não for obtido por valorização no mercado de capitais, acaba sendo garantido pela remuneração garantida pelo juro.
Além do efeito da escalada da Selic, que decolou de 2% para 10,75% em apenas 10 meses, o dólar também passa por uma fase de desvalorização global. Não é um comportamento de fácil explicação, às vésperas de uma elevação de juro nos Estados Unidos, prevista para março. O enfraquecimento da moeda americana, considerado de curto prazo, também provoca o descolamento das bolsas, da Europa ao Brasil, da constante referência que é Nova York.
— Espanta um pouco a performance desses mercados, mesmo com nossa crença de que os ativos por aqui estavam defasados., e alguns bem baratos para aquisição, principalmente em dólares, nos segmentos de commodities, bancário e de equipamentos. Mas fato é que a Bovespa sobe neste início de ano e o dólar cai para níveis insuspeitos. Só em janeiro, a queda do dólar foi de 4,89%, e a Bovespa subiu 6,98% — observou Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital modalmais, em nota.