Faz 374 dias: em 22 de outubro de 2020, o então ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pronunciou uma frase que soou ainda mais chocante por vir da boca de um (suposto) diplomata e ser dirigida a uma turma de futuros profissionais da área – era uma formatura do Instituto Rio Branco, que forma oficiais para o Itamaraty:
Depois de proferir tamanho disparate, Araújo ainda permaneceu longos cinco meses no cargo, elogiado por Jair Bolsonaro. Neste final de semana, o presidente sentiu na pele o que é ser pária na reunião do G20 na Itália. Ficou até fora da "family photo" (como são chamados os registros fotográficos coletivos das cúpulas) mais icônica do encontro, em frente à Fontana di Trevi.
Evitou ir a Glasgow, capital da Escócia, onde começou a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP26), para se proteger de rejeição ainda maior. Conforme relatos sobre o jantar de sábado à noite, sentou-se ao lado da chefe de governo da Alemanha, Angela Merkel, a quem afirmou que não é "tão mau". Merkel foi diplomática, como requer o cargo.
Às vésperas da COP26, o mais graduado diplomata brasileiro na reunião, Paulino Franco de Carvalho Neto, secretário de Assuntos Políticos Multilaterais do Itamaraty, pedia o "benefício da dúvida", ou seja, que não se cristalizasse a imagem de pária cultivada pelo antigo chanceler, em conluio com o também já defenestrado Ricardo Salles, do Meio Ambiente.
Poucos dias antes do encontro, foi esboçado um certo Programa de Crescimento Verde que, embora tenha sido lançado oficialmente, segue um completo mistério para os brasileiros, inclusive na Esplanada. Era uma tentativa válida, já que será necessário muito esforço para se livrar do rótulo cultivado de pária.
Vai ser uma pedreira. Os líderes globais que fazem discursos de proteção do ambiente são acusados de "blá-blá-blá", da ativista adolescente Greta Thunberg à rainha Elizabeth II, impaciente em seus 95 anos. O mundo clama por ações concretas enquanto o Brasil travou na reação, em vários sentidos.
A situação climática é tão grave que passou a época do "blá-blá-blá" e dos programas feitos só em power point. O nome do jogo em Glasgow é o "call to action", mãos à obra, em bom português. O Brasil nem aprendeu a falar sobre ambiente, ainda, e já precisa executar.
Se a COP26 fracassar, pode sobrar apenas o caminho que vêm trilhando os bilionários que temem pelo futuro do planeta e, por isso, estão investindo em viagens espaciais, Jeff Bezos e Elon Musk. Mas será, literalmente, outro mundo para poucos.