Em uma semana já bastante complexa, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, desafiou a lógica em geral e a diplomática em particular. Líder da pasta encarregada de polir a imagem do país, afirmou nesta quinta-feira (22), em plena formatura do Instituto Rio Branco, que forma novos diplomatas:
– É bom ser pária. Esse pária aqui, esse Brasil; essa política do povo brasileiro, essa política externa Severina,digamos assim, tem conseguido resultados.
Araújo apontou, entre os feitos do "Brasil pária”, acordos comerciais com União Europeia e Estados Unidos e a aproximação com países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Esclareceu que o "Severina" não era apenas uma referência ao livro Morte e Vida Severina, de João Cabral de Mello Neto, mas a uma empregada de sua família que "odiava comunistas". Para se certificar que não se ouvisse "pátria" em vez da palavra que designa excluídos, rejeitados, o ministro repetiu várias vezes:
– O Brasil hoje fala em liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional então que sejamos esse pária.
O acordo Mercosul-União Europeia, como se sabe, está ameaçado pela condução desastrosa do Brasil da crise ambiental na Amazônia e no Pantanal, mas também pelo comportamento do ministro, que não perde oportunidade para cometer antidiplomacia:
– Talvez seja melhor ser esse pária deixado ao relento, do lado de fora, do que ser um conviva no banquete do cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e dos semi-corruptos.
Na mesma cerimônia, o presidente Jair Bolsonaro disse que convidará "diplomatas de outros países" a sobrevoar a Amazônia para mostrar que "em nossa floresta amazônica nada queimando ou sequer um hectare de selva devastada". Quem aceitaria o risco dessa viagem?