O catarinense Marcelo Gasparino é um dos três candidatos ao conselho de administração da Petrobras indicados pelos acionistas minoritários à assembleia-geral extraordinária da próxima segunda-feira (12). Integra o conselho fiscal da Petrobras, é presidente do conselho de administração da Eternit e está nos colegiados da Vale e da Cemig. Como estão indicadas 11 pessoas para os oito postos, haverá disputa, o que é pouco comum. Um dos motivos é a forma da demissão do atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco, o que provocou a renúncia de conselheiros. A expectativa é de que metade do conselho seja alterado.
A grande renovação decorre da demissão deselegante do atual presidente?
Em uma estatal, a diretoria tem muita autonomia. Uma mudança no conselho não vai afetar diretamente a diretoria. O risco de influência política nas decisões de definição de preços dos combustíveis no Brasil é mitigado pelas regra de governança estabelecidas no estatuto social da Petrobras e nas competências do conselho de administração. Por ser um tema sensível, deverá ser discutido no seio do conselho, no qual o presidente da companhia também participa. Se o Executivo quiser definir a estratégia de política energética com redução do preço final, tem à sua disposição um instrumento, que é o subsídio. Deve compensar essa perda que a empresa passa a ter. Esse foi o instrumento adotado em 2016, quando o então presidente, Pedro Parente, foi substituído por Ivan Monteiro.
Seu papel será defender o interesse do minoritário, que é o maior lucro possível?
Não é o interesse do minoritário, é o da sociedade. O minoritário é uma figura do mercado de capitais que existe para permitir que a companhia possa realizar seu projeto de desenvolvimento. Para isso, a companhia capta dinheiro da poupança pública e investe. A Petrobras não é diferente. O que ocorre é que, por ser estatal, sofreu muito com a influência política, que acabou resultando em práticas de corrupção. Perdeu muito e ainda está em fase de recuperação. Não podemos permitir risco à saúde financeira e à credibilidade da Petrobras perante o investidor. O papel do conselheiro eleito pelo acionista minoritário é defender o melhor interesse da companhia caso os administradores eleitos pelo controlador não o façam.
Analistas preveem relação tensa entre o conselho e o novo presidente, isso pode ocorrer?
Não tive oportunidade de conhecer o general Silva e Luna, mas recebi boas informações em relação ao que fez em Itaipu. Li sobre uma eventual missão que teria recebido de que a Petrobras tem de considerar sua responsabilidade social em face do momento de pandemia. Tenho a mesma linha de pensamento. Todas as empresas estão assumindo importante papel social por meio de ações claras e concretas relativas à covid-19 como compra de insumos médicos, respiradores. Esse é o tipo de iniciativa que a Petrobras já vem adotando, que não significa redução artificial do preço do combustível.
Por que a Petrobras tem de seguir preços internacionais?
O primeiro motivo, e o mais simples, é porque é uma sociedade de economia mista de capital aberto. Se não quisesse se sujeitar à regra de mercado, teria de ser estatal pura, em que o governo que tem 100% de seu controle, como a Caixa. Portanto, a paridade não é questão relacionada exclusivamente à Petrobras, mas a qualquer empresa de produção e refino de petróleo. Como o Brasil produz é óleo pesado, e o refino de gasolina efeito com óleo leve, a empresa é obrigada a exportar o pesado e importar o leve, que é mais caro. Uma vez que o petróleo é commodity, seu preço é dado pelo mercado internacional. Quando se descola do preço internacional, a Petrobras arca com um custo que lhe traz perdas. Foi o que aconteceu no período da Dilma, houve perda estimada em US$ 40 bilhões. Outro agravante é que o país está baseado no modal rodoviário. Como visão de longo prazo, temos de valorizar os modais ferroviários e de cabotagem.
Mesmo sendo uma empresa monopolista?
Não há monopólio, é um oligopólio. O problema da paridade se agravou em fevereiro porque o dólar subiu muito e o petróleo subiu muito. Se não repassasse, causaria descompasso, porque as distribuidores só teriam vantagem competitiva se comprassem da Petrobras, que não tem capacidade de abastecer todo o mercado.
Qual é o impacto das intervenções no Banco do Brasil e na Petrobras?
Prefiro a palavra interferência. Isso evidencia o que a lei das estatais tanto combate, que é o uso da estatal para política de governo, quando na verdade existem para desempenhar e desenvolver políticas de Estado. Vejo com preocupação a perda de tantos talentos. Na Eletrobras, Wilson Ferreira precisou sair para que o projeto de capitalização andasse, na Petrobras, Castello Branco, e na lamentável decisão do presidente do Banco do Brasil de renunciar. Preocupa porque o mercado financeiro é muito sensível a interferência em instituições financeiras. E o BB não é só uma referência nacional, mas é um banco de porte internacional. Temos um sistema financeiro reconhecidamente sólido, que não pode ser abalado por questão de política de governo.