A coluna ouvia um agente de mercado, no início da noite de quinta-feira (19), quando foi confirmada a renúncia do presidente do Banco do Brasil, André Brandão. Ao comentar o que imaginava ser um desfecho previsível, ouviu um palavrão do outro lado da linha, em tom de surpresa.
Apesar de a sucessão de Brandão ser especulada há semanas, ainda havia expectativa de que o executivo conseguisse contornar o atrito com o presidente da República, Jair Bolsonaro, criado pelo anúncio de fechamento de agências e demissão de funcionários em meados de janeiro.
Nem a rápida indicação do sucessor, Fausto de Andrade Ribeiro, pelo Ministério da Economia, mudou a visão do mercado sobre o episódio, que reverbera nesta sexta-feira (19). O assunto apareceu nos comunicados matinais de instituições financeiras:
XP Investimentos
“Acreditamos que a notícia seja negativa devido tanto a perda de um executivo relevante, quanto pelo possível aumento na percepção de risco político por investidores. Porém acreditamos que o evento já era esperado há algumas semanas."
Ativa Investimentos
"Notícia é negativa, pois evidência o risco de ingerência político no banco estatal e coloca em xeque o processo de modernização do banco. A notícia do substituto, Fausto de Andrade Ribeiro, deve ser recebida com certa surpresa uma vez que ele não estava entre os nomes iniciais especulados para substituir Brandão."
Travelex Bank
"Na bolsa, as ações do Banco do Brasil ficam no radar dos investidores (...), fazendo também com que os investidores reflitam sobre manter em carteira ações de empresas estatais, tendo em vista que as intervenções do governo brasileiro nessas empresas estão sendo constantes, atrapalhando o bom desempenho das ações."
Na semana anterior, o Ministério da Economia e o Banco Central haviam indicado formalmente outro candidato ao cargo, o atual presidente da Caixa Seguridade, Eduardo Dacache. A indicação de Ribeiro é atribuída ao presidente da Caixa, Pedro Guimarães.
As ações do Banco do Brasil abriram com baixa discreta nesta sexta-feira (19), que se aprofundou na primeira meia hora de funcionamento da bolsa. A decisão é vista como uma interferência política na gestão do banco, mas analistas ponderam que parte da perda já estava "precificada", ou seja, o BB já havia perdido cerca de R$ 10 bilhões em valor de mercado em decorrência da ameaça a Brandão. O preço da ação ordinária, que havia encostado em R$ 40 no início de janeiro, está abaixo de R$ 30 nesta sexta-feira.