O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Analistas do mercado financeiro entendem que o juro básico na mínima histórica está com os dias contados no país. O que reforça a projeção de alta iminente na taxa Selic é a inflação acima das projeções na largada de 2021. Aliás, a disparada de parte dos preços teve novo capítulo confirmado nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme dados divulgados pelo órgão, o IPCA, conhecido como a inflação oficial do país, registrou variação de 0,86% em fevereiro. Trata-se da maior marca para o período desde 2016. Não bastasse isso, o índice acumula avanço de 5,20% em 12 meses. Ou seja, encostou no teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central (BC) neste ano — o centro é 3,75%, podendo variar entre 2,25% e 5,25%.
Diante do quadro, analistas esperam que o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) aumente a Selic já na próxima semana, durante reunião agendada para terça (16) e quarta-feira (17). O juro básico é o principal instrumento do Banco Central para tentar controlar a inflação. Na teoria, ao elevar a taxa, a instituição encarece o custo do crédito no país, o que pode frear a demanda por bens e serviços mais à frente.
A situação não é simples, já que a economia vive crise aguda provocada pelo coronavírus e ainda precisa de estímulos. Atualmente, a Selic está em 2% ao ano.
Na visão do economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, o Copom tende a elevar o juro básico de 0,25 ponto percentual a 0,50 ponto percentual na próxima semana.
— A inflação é preocupante. Não é de curto prazo. Estimamos que o Banco Central comece um processo gradativo de aumento no juro. É melhor fazer isso agora do que deixar a inflação correr mais, tendo de promover uma elevação de maneira brusca depois. O IPCA de fevereiro vai pesar, porque veio acima das expectativas — afirma.
Por trás da elevação dos preços, existe uma combinação de fatores. Durante a pandemia, cadeias produtivas globais foram desajustadas. Com a reabertura de atividades em diferentes países, houve corrida por insumos, o que impactou preços.
Além disso, o dólar alto estimulou exportações de matérias-primas, gerando pressão nos valores no mercado interno. Por fim, o auxílio emergencial aqueceu a demanda por alimentos e deixou os produtos mais salgados para os consumidores nas gôndolas dos supermercados.
Agora, a inflação é turbinada pelo avanço dos preços de combustíveis. Em fevereiro, a gasolina subiu 7,11% no país, respondendo por aproximadamente 42% do IPCA, conforme o IBGE.