Há menos de um mês — exatos 25 dias — a coluna se assustou com a placa de preço de gasolina que marcava R$ 4,999. Na terça-feira (9), depois do sexto reajuste nos primeiros 68 dias de 2021, o valor exposto tocou em R$ 5,999, ou seja, R$ 6.
Todos sabemos: o aumento acumulado em 54% nas refinarias só neste ano é resultado da combinação de alta na cotação do petróleo e desvalorização do real. Com o barril encostando em US$ 70 e o dólar arranhando os R$ 6, a gasolina pode chegar a R$ 7?
No período em que a gasolina subiu 54% no Brasil, o óleo tipo brent, usado pela Petrobras para definir seus reajustes, aumentou 33,2%. O dólar, o outro componente da equação, subiu 10%. Nesse caso, não basta somar os dois fatores, o que daria 43,2%, mas fazer a conta da pressão acumulada, que alcança 46,5%. Os pontos percentuais excedentes equivalem a repasses represados em 2020.
Portanto, a maior pressão sobre os reajustes dos combustíveis no Brasil veio mesmo do petróleo, cujo destino está nas mãos de um cartel, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que decidiu na semana passada manter cortes na produção até abril. Com oferta limitada, faz o preço subir. Na manhã desta quarta-feira (10), a cotação do barril de brent é de US$ 67,75.
No Brasil, o câmbio seria a variável mais controlável — pouco, mas uma economia equilibrada contribui para a valorização da própria moeda. O problema que é o dólar subiu neste início de ano, e não por uma irrefreável tendência internacional. Ao contrário, a moeda americana cedeu ante várias outras com a eleição de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos.
Havia a perspectiva de que o real também conseguisse se recuperar, o que não foi possível diante da desconfiança do mercado quanto à política populista de Jair Bolsonaro. Agora, o dólar retoma valorização ante as demais moedas, como mostra a elevação dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries.
Na manhã desta quarta-feira (10), o dólar recua 0,8% para R$ 5,75. Embora analistas admitam que pode chegar a R$ 6, projetam que feche o ano por volta de R$ 5,50. Ou seja, existe perspectiva de algum alívio. Como o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu uma nova porteira de incerteza, não só sobre o futuro político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como de toda a Operação Lava-Jato, é difícil garantir que essa previsão se confirme.
Até por isso, avança no governo a intenção de uma saída à Dinamarca: a criação de um fundo de estabilização para os combustíveis, abastecido com recursos de royalties e participações especiais arrecadadas pelo governo federal na exploração de petróleo e gás. Não é uma garantia de que o litro da gasolina não chegue a R$ 7 na bomba, mas é uma das poucas alternativas possíveis para impedir choques como o que estamos vivendo.