O novo reajuste de 4,8% no preço da gasolina nas refinarias, aliando à tendência de alta na cotação do petróleo tendem a levar a R$ 6 o valor na bomba do combustível mais cedo do que se temia.
Com os novos repasses, a gasolina já acumula aumento de quase 40% na refinaria desde o início do ano, enquanto o diesel subiu 34% no período.
Depois de defender a política de preços alinhados com o Exterior ao anunciar o lucro da Petrobras em 2020 usando uma camiseta com a inscrição "mind the gap" (cuidado com o buraco, em tradução informal), o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, dobrou a aposta poucos dias antes de deixar o cargo.
Conforme análises de mercado, com esse reajuste, que também afetou o diesel (5% de aumento na refinaria) e até no gás de cozinha (a maior alta, de 5,2%), os preços no Brasil ficam alinhados aos internacionais. Castello Branco quis deixar o cargo sem o "gap" (diferença entre preços internacionais e domésticos) que ostentou na camiseta. É um bom discurso para o gestor, mas será uma resposta adequada para este momento?
Apesar do inesperado silêncio presidencial, depois da reação destemperada de Bolsonaro ao movimento anterior da Petrobras, a decisão já provocou a reação dos caminhoneiros. Presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, já está convocando a categoria a "mostrar a nossa força de novo".
A política de preços da estatal repassa às refinarias a variação do preço internacional do petróleo e as flutuações do câmbio no Brasil. Nesta segunda-feira (1º), o petróleo brent, que a Petrobras usa para seus cálculos, sobe só 0,34%. Mesmo assim, custa agora US$ 64,62 por barril e mantém a quarta cotação mais elevada em cinco anos. Ao menos, o dólar desacelera em relação ao real, com baixa de 0,67% neste início de tarde.
Conforme a consultoria Rystad Energy, os preços da matéria-prima serão impulsionados, nesta semana, pela à muito esperada aprovação do pacote de estímulos dos Estados Unidos. Em nota, a empresa avalia que "os valores vão se mover na medida em que o maior gasto eleve a atividade industrial e da sociedade, criando maior demanda por petróleo". A coluna temia que o preço da gasolina encostasse em R$ 6, mas nunca imaginou que isso pudesse ocorrer com tamanha rapidez, e com tantos efeitos negativos para a economia brasileira.