A combinação entre o temor gerado pela anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a preocupação de que a polarização acentuada acentue os traços populistas de Jair Bolsonaro fez o dólar fechar em R$ 5,795 nesta terça-feira (9), depois de ter trafegado em R$ 5,874.
A bolsa, no entanto, recuperou algum terreno depois do tombo da véspera, e teve alta de 0,65% com a perspectiva de aprovação da PEC Emergencial na Câmara sem alterações. Mas o novo cenário político e econômico provocou efeitos para além do mercado financeiro.
Vários economistas passaram a rever suas projeções, do câmbio à inflação, passando pela taxa de juro. Na véspera, assim que foi possível assimilar a inesperada decisão do ministro Edson Fachin, muitos economistas advertiram que a "conta" da maior incerteza teria de começar a ser paga pelo Banco Central.
Na próxima semana, há reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir sobre a taxa de juro. Há três semanas, havia dúvida se já seria necessário aumentar a Selic agora ou só em maio. Na semana passada, a discussão era se o ajuste suficiente seria subir 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto percentual. No novo cenário, começa a se formar consenso para elevação de 2% para 2,5% ao ano na quarta-feira da próxima semana.
Em comum, as revisões de cenário trazem piora nos indicadores. A MB Associados elevou a inflação de 4% para 4,3%, a Selic de 4% para 5,5% e o câmbio de R$ 5,40 para R$ 5,60. A corretora Necton aumentou o IPCA de 4,1% para 4,58%, a Selic de 4,5% para 5% e manteve o câmbio em R$ 5,70, porque já tinha uma projeção acima do mercado. Esses movimentos vão se traduzir em mudanças na próxima edição do boletim Focus, do BC.
No relatório da MB Associados, o economista-chefe Sergio Vale prevê que, no curto prazo, o dólar atinja R$ 6. O analista avalia que a acentuação da polarização entre esquerda e direita tende a "asfixiar" as chances da criação de um centro-democrático viável para disputar a eleições presidenciais de 2022. Segundo Vale, "o presidente Bolsonaro, já sem o falso véu do liberalismo, enfrentará nos próximos dois anos as consequências econômicas de seus atos, em conjunto com os riscos criados por Lula. O economista comparou o clima eleitoral de 2022, caso esse cenário se consolide, ao de 2002, quando o dólar alcançou maior valor real (considerada a inflação) ante a moeda brasileira.