A reação imediata do mercado à decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular todas as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva pela 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava-Jato, foi aprofundar a queda na bolsa e a alta no dólar.
O Ibovespa fechou com queda de 3,98% e o câmbio encerrou a segunda-feira (8) a R$ 5,778, perto da máxima do dia, que foi de R$ 5,783 às 16h50min.
A decisão de Fachin surpreendeu o mercado, que costuma antecipar medidas com potencial de impacto econômico. Não havia expectativa de que fosse tomada agora, o que aumentou a intensidade da reação. Além da óbvia consequência eleitoral — Lula poderá disputar a corrida presidencial de 2022 —, há temor de impactos mais imediatos.
Analistas e investidores avaliam que o presidente Jair Bolsonaro já estava excessivamente focado na reeleição, o que provocava decisões equivocadas, como a intervenção na Petrobras, que acabou acentuando alta do dólar e realimentando reajustes. A transformação de Lula em candidato viável tende a agravar essa característica. E embora o mercado não esteja satisfeito com as entregas de Bolsonaro na agenda de reformas e privatizações, teme a inversão total de mão na política econômica com eventual vitória de Lula em 2022.
Ainda há tentativas de digerir a decisão com a leitura de que anular as condenações de Lula poderia impedir a revisão de todos os processos da Lava-Jato no STF, mas não há segurança sobre esse efeito. A incerteza sobre a solidez das decisões de Curitiba já existia, mas estava longe dos cálculos, ou seja, não estava "precificada". A primeira reação que a coluna ouviu de um analista, antes de qualquer análise de fundo, foi um desabafo:
— Virou palhaçada.
Outros agentes do mercado viram na movimentação surpreendente do STF uma tentativa de "dar um recado" a Bolsonaro, no sentido de "mitigar a militarização". Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, lamentou que o "ajuste de moralidade" pelo qual o país passou na Lava-Jato agora fique em risco. Também pondera que a decisão complica o cenário para a economia em um momento já difícil para o país, que enfrenta problemas no combate à pandemia:
— Essa decisão joga gasolina na fogueira, e uma gasolina que está cara, pressiona a inflação e, provavelmente, faça o Banco Central elevar o juro na próxima semana, mesmo que haja perspectiva de queda de PIB no primeiro trimestre. Muito provavelmente vai se acirrar essa briga pela reeleição de Bolsonaro e pela eleição de Lula. O STF perdeu a pouca credibilidade que tinha e parece ter se tornado uma instituição política.
André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora, observou que "a incerteza jurídica deve continuar elevada, pressionando ativos para baixo" e avisou que revisará, na terça-feira (10), suas projeções para juro e câmbio. Especialista em câmbio, Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO, afirmou:
— O grau de nebulosidade se amplia e a sucessão presidencial assumirá a cena principal nas discussões e isso poderá retardar o que já é retardatário, tornando secundário o principal. O tem viés de alta agora mais acentuado, com danos generalizados à economia, tornando inevitável que o Copom eleve a Selic, ao menos para mitigar um pouco a pressão altista.
E como nada é tão ruim que não possa piorar, o dólar negociado no mercado futuro às 18h, depois do fechamento do câmbio comercial, atingiu R$ 5,85.