A bolsa já não havia começado bem segunda-feira (8), e tentava reagir quando, por volta das 15h3omin, chegou a informação de que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia anulado todas as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva pela 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava-Jato.
Em poucos minutos, o Ibovespa caiu mais cerca 2%, aprofundando a perda para acima de 3%. O dólar também teve um soluço e fechou cotado a R$ 5,778, perto da máxima do dia, que foi de R$ 5,783 às 16h50min.
Como a decisão de Fachin retira a condição de "inelegível" do ex-presidente Lula, a leitura do mercado é de que o petista poderá disputar a eleição presidencial de 2022. Caso essa hipótese se concretize, há temor de uma polarização ainda mais aguda.
Se um dos problemas identificados por analistas e investidores era de que o presidente Jair Bolsonaro estava excessivamente focado na reeleição, a transformação de Lula em candidato viável só tende a agravar essa característica. Embora o mercado não esteja satisfeito com as entregas de Bolsonaro na agenda de reformas e privatizações, teme a inversão total de mão na política econômica com uma eventual vitória de Lula. Ainda há tentativas de digerir a decisão de Fachin, e o que a coluna ouviu de um analista, antes de qualquer análise de fundo, foi um desabafo:
— Virou palhaçada.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, lamentou a decisão porque o país havia passado por um "ajuste de moralidade", que agora fica em risco. Também pondera que a decisão complica o cenário para a economia em um momento já difícil para o país, que enfrenta problemas no combate à pandemia:
— Essa decisão joga gasolina na fogueira, e uma gasolina que está cara, pressiona a inflação e, provavelmente, faça o Banco Central elevar o juro na próxima semana, mesmo que haja perspectiva de queda de PIB no primeiro trimestre. Muito provavelmente vai se acirrar essa briga pela reeleição de Bolsonaro e pela eleição de Lula. O STF perdeu a pouca credibilidade que tinha e parece ter se tornado uma instituição política.
Outros analistas viram na movimentação surpreendente do STF uma tentativa de "dar um recado" a Bolsonaro, no sentido de "mitigar a militarização".
Na semana passada, uma pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), novo instituto da estatística Márcia Cavallari (ex-Ibope), apontou que 50% dos entrevistados disseram que votariam com certeza ou poderiam votar em Lula se ele se candidatasse novamente à Presidência. O índice de rejeição também foi alto (44%), mas Bolsonaro apareceu com 12 pontos porcentuais a menos no potencial de voto (38%), e 12 a mais na rejeição (56%).