Eduardo Logemann, presidente do grupo SLC, tem acompanhado, de longe, os incêndios na região Centro-Oeste. É lá que a empresa gaúcha concentra suas plantações de soja, milho e algodão, entre outros. A empresa de 75 anos já fabricou máquinas, vendeu o negócio à americana John Deere e passou a se dedicar à produção de alimentos. Neste 2020 de preços de matérias-primas disparando, diz que a SLC Agrícola terá "ano recorde".
— Os negócios vão bem, obrigado, mas é o que menos me traz felicidade agora. O que mais me deixa satisfeito é o cuidado da nossa gente e isso não é demagogia. Foi no que focamos desde o primeiro dia. Todas as nossas 18 lojas (de máquinas agrícolas) operaram só na internet e, na Expointer digital, vendemos 8% a mais do que no ano passado, com um décimo do custo.
Isolamento
"Trabalhei mais durante a covid, fiquei disponível das 7h às 20h. Adotei modelo híbrido, até por ser uma pessoa espontânea, agitada. Tenho ido quase todos os dias ao escritório. Desde 20 de março, reduzidos de 270 para 20o o número de pessoas em atuação presencial. A SLC Agrícola tem sede em Porto Alegre, o comando das revendas de máquinas fica em Cruz Alta. Na semana passada, 25% dos 270 voltaram ao trabalho presencial, com todos os cuidados de segurança. Vamos ficar um mês assim, depois talvez voltemos com 50%. A ignorância de todos é tão grande nesse assunto, no sentido de que ninguém tem certezas, que é preciso ir com cuidado. Deus queira que as vacinas funcionem. Mas o básico já ajudam, máscara, álcool gel, distanciamento."
Leitura e lazer
"Sou leitor por lazer, não gosto de livros técnicos. Tenho visto séries e filmes com minha mulher. Como gosto muito de carro e moto, estou reformando uma kombi para passear com os netos. Está em uma oficina, mas vou para o mecânico, tenho de comprar peças. Duas vezes por semana, vou lá por meia hora. E nos finais de semana dou uma volta de moto para espairecer. Sou faixa de risco, fiz 70 em julho, então me cuido."
Combate ao coronavírus
"Sinto mais falta de liberdade. Ir a restaurante, a qualquer hora a casa de um amigo, dar um abraço apertado. Temos mantido o convívio com filhos e netos. Estar com amigos, sem cuidado, deve ser impossível por muito tempo. Enquanto não tiver vacina, vamos ter de nos cuidar, por mais que a gente queira acelerar a volta à normalidade. Tenho encarado de maneira serena, levando a vida como dá."
Aprendizado
"Do ponto de vista empresarial, a globalização vai ser revista. Quando o calo aperta, cada um sabe onde lhe dói mais. Alguns países mostraram solidariedade da boca para fora. Outros tentaram transferir a culpa. Mas cada um vai procurar ser menos dependente. A China faz estoques monstruosos de tudo, o mesmo ocorre nos Estados Unidos. Outro conceito que ficou em xeque é o do just in time (método de produção sem estoques, em que os insumos vão chegando conforme a produção avança). Está faltando máquina agrícola, se tivesse, nós poderíamos vender mais, mas faltaram componentes."
Reflexões
"A gente é muito vulnerável. Vivo a vida com muita intensidade. Nos negócios, já tivemos sucesso, outros deram errado, batemos a cabeça na parede. A vida tem de ser vivida um dia de cada vez. E que não devemos deixar para amanhã o que podemos fazer hoje. Aumentou a consciência de que precisamos aproveitar bem as coisas. Já viajei quase todo o mundo, inclusive de moto, isso não está fazendo falta. O prazer agora está em montar a kombi, ir à Serra e voltar, ficar na casa da praia. Também valorizamos mais os amigos, como fazem falta. Tivemos incêndios perto de nossas fazendas. Tem crime ambiental, e criminosos devem ser tratados como criminosos. O mundo está passando por mudança climática, mas não por causa da agricultura, que no Brasil ocupa de 7% a 8% do território, outros 12% a 15% com pecuária. Não podemos ser negacionistas, existe uma mudança climática."