Pouco antes da pandemia, Lara Piccoli e o sócio, Fábio Bernardi, assumiram o controle de uma agência de propaganda. Em plena quarentena, com 80 funcionários trabalhando em casa, mudaram o nome da empresa de Morya para House of Creativity (HOC, que eles pronunciam como 'rock', não só por coincidência). E tudo isso aconteceu com um bebê, Santiago, agora com um ano e nove meses, em casa. É por isso que a imagem acima é a do home office de Lara.
– A decisão foi tomada pouco antes da pandemia, tinha uma certa previsão financeira. Deu medo. Brinco que estamos superfelizes, com um punhado de sonhos em uma mão e boletos para pagar na outra – observa.
Até agora, o maior benefício da mudança foi ter controle sobre as decisões, o que, segundo Lara, "recuperou a crença no negócio":
– Na pandemia, foi preciso operar carro na chuva, com pista escorregadia, não deu nem tempo de ficar preocupada. O tamanho do tufão fez com que nada fosse estranho. Trocamos de nome no meio da pandemia, podemos virar plataforma, nada mais é estranho.
Isolamento
"Estamos em home office desde 16 de março, o escritório segue fechado. Somos 80 pessoas trabalhando de casa. Fico absorvida com o Santiago em vários momentos do dia, mas trabalho, faço reuniões. A rotina está completamente diferente, até porque sempre fui uma pessoa superorganizada. Em casa, está tudo misturado, dividido entre a rotina doméstica, o cuidado com a criança e o trabalho. Na empresa, fizemos várias pesquisas para entender como as pessoas lidam com isso tudo. Na segunda rodada, ninguém disse que queria voltar ao escritório até o final do ano. Vamos nos estruturar para não voltem a trabalhar todos os dias na empresa. Vamos ver como reforçar a estrutura nas casas para estudar um rodízio, ver que nova rotina será essa."
Leitura e lazer
"Com um bebê para cuidar, não rendeu muito (risos). Sempre tive certa mania por comprar livros, transferi parte para o aprendizado digital. Tenho uma fila de cursos a que vou assistindo, desde educação positiva para pais e professores até uma pós-graduação na PUCRS em psicologia positiva. De séries e filmes, vi Dilema das Redes, à noite, depois do banho do Santiago. Como gosto de ler mais de um livro ao mesmo tempo, estou com Reinventando as Organizações (de Frederic Laloux), que é um pouquinho 'cabeçudo', fala da nova era das empresas, e Qual seu Modelo Digital de Negócio (de Peter Weill e Stephanie Woerner), porque precisamos pensar em como transformar nosso serviço em um ativo digital."
Combate ao coronavírus
"Achei muito confuso. Sou uma pessoa orientada a buscar soluções, não a remoer problemas. Como não consigo chegar a uma conclusão, e isso tirou meu chão. Entre as fontes consolidadas de conhecimento e informação, não existe um diagnóstico uníssono. É muito difícil lidar com esse nível de incerteza. Esse combate emocional é o mais difícil do que as coisas práticas, usar máscara, lavar as mãos. Até com a restrição de liberdade já aprendi a lidar, mas a falta de respostas cansa demais."
Aprendizado
"Além de tentar conviver com a incerteza, teve um lado muito positivo: rompeu uma barreira que há muito tempo queríamos quebrar na agência. Estamos todos mais flexíveis. A gente fica muito presa a hábitos. A cadeia, a mesa, as reuniões presenciais. Claro que é mais gostoso, os clientes sempre pedem muito. Mas a falta de alternativa nos fez avançar sem parar para pensar no esforço para romper a a rotina. De certa forma, foi libertador, e aconteceu de uma forma que não tem culpado, ou tem, e é o coronavírus, mas não vai mudar ficar apontando para ele. Temos uma cultura de apontar o erro, nomear, culpar. Precisamos mudar."
Reflexões
"Lidar com a incerteza e a falta de controle foi o mais impactante. Outra foi aprender a distinguir o que importa de verdade na vida. Obrigou a pensar no que a gente realmente precisa para viver e o que faz falta. Tem a ver com relações humanas, familiares, amigos, colegas. A gente acumula muito lixo, a pandemia nos ajudou a fazer uma higienização interna."