O que começou com perspectivas individuais de economistas do setor financeiro passa a virar consenso: a necessidade de elevar o juro básico não é mais um "se", mas um "quando".
É resultado da combinação entre a pressão da alta de preços, os sinais de que o governo pode abandonar o compromisso de ajuste fiscal e a inquietação com a fuga de dólares do Brasil.
Uma das primeiras vozes a advertir para a pressão por ajuste na taxa básica foi a de Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra. Embora admitisse que é "muito difícil precisar" o momento da virada, mas projetava para algum ponto entre o final deste ano e o início do próximo. As apostas sobre essa data têm se disseminado entre economistas ligados ao mercado financeiro e também os acadêmicos, mais teóricos.
Segundo Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim (BV), os juros futuros indicam que a taxa básica poderá estar no patamar de 5% no próximo ano. Esse não é só um indicador, porque é base para o custo dos financiamentos às empresas. Ou seja, na vida real, o preço do dinheiro já subiu. O debate, pondera, passou a ser o momento e a intensidade da alta do juro básico. Entre os motivos que Padovani aponta para a pressão estão a piora nas condições de rolagem da dívida pública, o rumo do câmbio e até a perspectiva de normalização da atividade econômica e, por consequência, da inflação.
Padovani é do grupo de economistas que não veem perigo de descontrole inflacionário na atual pressão de preços. Avalia que a forte alta no desemprego, com pouca perspectiva de normalização rápida, segura os repasses mesmo diante de "choques adversos". Por isso, pondera, o maior fator de risco para a forte alta dos juros futuros, que pressionam por uma revisão da Selic, é o comportamento das contas públicas.
Como o governo adiou a solução para o Renda Cidadã para depois das eleições municipais, criou incerteza sobre o controle das despesas públicas. Com isso, os riscos fiscais não são conhecidos, e portanto, elevam a probabilidade de uma alta do juro mais forte do que a sinalizada pelo Banco Central. Para reduzir essa pressão, pondera, seria necessária uma "comunicação mais clara sobre a estratégia fiscal do governo e medidas concretas para coordenar as expectativas".