A combinação entre a pressão da alta de preços e os sinais de que o governo pode abandonar o compromisso de ajuste fiscal pode resultar na alta do juro entre o final desde ano e o início do próximo.
O autor da projeção, Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, admite que é "muito difícil precisar" o momento em que o ciclo pode virar, mas pondera que, se o regime fiscal for abandonado e as expectativas para a inflação se deteriorarem, "não haverá outra saída a não ser subir a Selic".
Oliveira observa que a proposta para financiar o Renda Cidadã levou à percepção de as mudanças podem representar uma piora no quadro fiscal. Pondera que, na prática, adiar o pagamento de precatórios corresponde a aumento de gasto, porque as despesas com sentenças judiciais não podem ser canceladas, apenas adiadas. Também lembra que a utilização de recursos do Fundeb, que não está incluído no teto de gastos, faria com que o aumento de despesa com o Renda Cidadã, além de não ser financiado por novas receitas ou corte de gastos, também dribla a regra.
Com a alta de 4,34% em setembro no IGP-M, ante 2,74% de agosto, as pressões sobre os preços na ponta do consumo devem aumentar. Oliveira vê "inconsistência" entre as políticas fiscal (aumento da dívida, com maior custo para rolagem) e monetária (taxa de referência no menor patamar da história):
– Se tal contradição de fato se confirmar, o resultado será taxa de câmbio mais depreciada, maior prêmio de risco-país, maior prêmio para os vencimentos mais longos da curva de juros doméstica, maior dificuldade de o Tesouro Nacional se financiar com papéis longos e, finalmente, maior probabilidade de downgrade na avaliação do crédito soberano por parte das agências de rating. Neste cenário aumenta a probabilidade de o Banco Central antecipar o ciclo de alta da taxa Selic dada a taxa de juros real neutra mais alta.