Depois da reunião do início da noite de segunda-feira (17), o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve mais um "dia do fico". Como ele mesmo afirmou, já houve "duas ou três vezes" em que precisou da reiteração do apoio presidencial. As especulações sobre sua eventual saída do cargo haviam afetado o mercado financeiro, especialmente por representar risco para os compromissos fiscais de médio prazo.
Nesta terça-feira (18), a renovação da confiança mútua na relação com o presidente Jair Bolsonaro, como descrita por Guedes na véspera, fez a bolsa subir 2,48%, embora o mercado de câmbio, mais reticente, tenha mantido o dólar estacionado perto dos R$ 5,50.
Na leitura das declarações do ministro, muitas entrelinhas mantiveram dúvidas acesas. Uma das frases que geraram inquietação foi "tudo isso a gente conversa", quando perguntado sobre possibilidade de nova prorrogação do auxílio emergencial e recursos para infraestrutura. Nesta terça-feira (18), Guedes mantém uma série de reuniões com sua equipe, enquanto Bolsonaro recebe Walter Braga Neto, chefe da Casa Civil e do plano de investimentos públicos em infraestrutura.
Um dos objetivos é negociar o orçamento do próximo ano sem furo no teto, mas com rebaixamento do piso. O objetivo é acomodar novos gastos com obras, com o programa Renda Mínima e até garantir blindagem para gastos com a Defesa, como a construção de um submarino nuclear brasileiro.
Mas a mudança do piso representa ameaça com corte de gastos essenciais, como os da saúde, que dificilmente vão diminuir no pós-pandemia, e também com a educação. Não precisa gastar muitas palavras para descrever como esse rebaixamento de piso parece inadmissível, agora ou em 2021. Existe espaço para cavar, mas o governo Bolsonaro começou a obra nos lugares errados.
Enquanto isso, Guedes segue sob pressão para produzir espaço entre o piso e o teto, com objetivo de permitir um conjunto robusto de despesas. O governo tem até o dia 31 para enviar a proposta de orçamento ao Congresso. Como se sabe, a melhor saída para resolver obras no piso e no teto é uma boa reforma. No caso, a administrativa, que teria sido garantida a Guedes ao longo desses dias tensos até o "fico".