Em junho, houve uma redução na população que vive em situação de extrema pobreza
(R$ 154 ao mês) no Brasil, de 4,2% para 3,3%. É o menor nível em 40 anos, conforme levantamento do pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
Claro, é efeito do auxílio emergencial, que tem final previsto para setembro, caso não seja prorrogado pela segunda vez, com já se discute em Brasília.
E depois? O governo Bolsonaro acena com a proposta Renda Brasil, que substituiria o Bolsa Família como principal programa social do país. Um dos objetivos, declarados publicamente, é mudar a assinatura da ajuda, porque a atual é muito associada aos governos do PT.
– O Renda Brasil tem aspectos interessantes, mas o processo de discussão não tem sido muito positivo – avalia Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social),
Neri considera um "grande risco" trocar uma política que vem dando certo por uma estratégia ainda não bem delineada. Pondera que há oportunidade de aperfeiçoar o programa atual, que pode até trocar de nome, mas deveria manter elementos básicos.
– O auxílio emergencial de certa forma mudou parâmetros do debate, e até por isso, essa mudança é um pouco delicada agora, em que a pressão está muito forte, com discussão emocional.
Segundo Neri, há um complicador: neste ano há eleições municipais, e as prefeituras têm papel importante no Bolsa Família. Pondera que, nos últimos 30 anos, a pobreza diminui em anos eleitorais e ajuda a definir ciclos políticos.
– É bonito de ver a pobreza caindo. O auxílio emergencial gera um novo parâmetro. Faz sentido não deixar ninguém para trás na pandemia, mas precisamos de lembrar o que aprendemos na crise de 2008: o aumento de gastos anticíclicos de forma permanente é receita para desastre futuro. E vejo não só maior demanda por gastos como menor preocupação com a qualidade desses gastos.