A tentativa de criação da maior empresa de energia do Brasil envolve duas companhias que têm conexões com o Rio Grande do Sul em uma área crítica para o Estado.
O futuro do negócio depende do BNDES, que está reticente em aceitar uma oferta da Eneva, empresa de geração e maior operadora privada de gás natural do país, por uma participação relevante (28,3%) na AES Tietê. Mesmo que o negócio não avance, a movimentação expõe pendências não resulvidas no abastecimento do Estado.
O plano da Eneva é comprar a totalidade da Tietê, constituindo então essa gigante que seria controlada pelo BTG Pactual e pelo Cambuhy, o fundo de investimentos da famlía Moreira Salles, sócia do Itaú Unibanco.
A americana AES começou a operar no país com a compra de um braço da CEEE no final anos ano 1990. Há dois anos, vendeu a distribuidora Eletropaulo por R$ 5,5 bilhões à italiana Enel e parece disposta a abandonar o Brasil.
A Eneva, por sua vez, tinha participação em uma mina de carvão em Candiota. Havia sido adquirida em 2013, quando Eike Batista tentou dar sobrevida a duas de suas empresas X com ajuda da alemã E.on, entre outros acionistas.
Em abril deste ano, a Eneva concluiu a venda de seus últimos 30% na usina Seival à Copelmi, mesma empresa que tenta implantar um projeto de exploração de carvão em Eldorado do Sul. A Copelmi era a dona original do ativo que havia sido vendido a Eike.
Sim, é um enredo complexo. Mas mesmo que o negócio seja bem sucedido e a AES abandone mais um segmento de negócios no Brasil, ainda terá uma presença no Estado. Pertence à empresa americana a usina a gás construída nos anos 1990 em Uruguaiana. Deveria ser abastecida com gás argentino, o que só funcionou por curtos intervalos.
O histórico desses negócios e a complexidade que cerca a transação entre Eneva, BNDES e Tietê, no entanto, abre uma perspectiva para o Rio Grande do Sul. Pode acelerar a solução para o ativo quase abandonado em Uruguaiana e para o mercado de gás no Estado.