Em menos de um mês, uma chance de reativação surgiu e foi enterrada. A novela de mais de uma década do projeto que previa investimento de até R$ 3 bilhões em uma usina térmica e uma estação de regaseificação em Rio Grande resume algumas das mazelas que cercam grandes empreendimentos no Estado. Problemas de planejamento, dificuldades no licenciamento e até a posição geográfica do Estado se combinaram para que a ambição naufragasse.
Na terça-feira (2), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) rejeitou o pedido de revisão e cancelou definitivamente a outorga, que é a autorização para executar o empreendimento. O principal argumento para tentar evitar esse desfecho era a mudança de mãos no controle do projeto, da gaúcha Bolognesi Engenharia para o espanhol Grupo Cobra.
Embora os atuais empreendedores ainda avaliem a possibilidade de entrar com recurso na Justiça, já que se esgotaram as possibilidades de mudar a posição da Aneel, as chances de sucesso são muito reduzidas.
Quando foi planejado, no final da primeira década dos anos 2000, o projeto tentou se antecipar à queda no preço do gás natural liquefeito (GNL), uma forma de permitir transportar o combustível gasoso em longas distâncias. Também contava com o chamado "mercado de projetos", em que ideias elaboradas ganham valor e são vendidas para empresas interessadas.
O empreendimento chegou a ser contratado nos leilões públicos de energia — daí o poder da Aneel de cassar a outorga —, mas então esbarrou na dificuldade de obter licenciamento ambiental. Empreendedores não se conformam com a inflexibilidade do Ministério Público Federal em Rio Grande, que barrou a construção de um terminal flutuante, mas na tentativa de retomada se descobriu que poderia haver uma forma de contornar esse problema.
Por fim, até a posição geográfica do Rio Grande do Sul jogou contra o projeto. Ao avaliar um projeto menos ambicioso para o Sul, diante da constatação de que havia demanda reprimida por gás na região, a Golar Power foi aconselhada, por um centro de pesquisa da PUC-Rio especializado em gasodutos, a fazer uma estação de regaseificação flutuante em Santa Catarina. Um dos motivos é o fato de não haver problemas de altitude e relevo.
Conforme especialista ouvido pela coluna, que prefere não se identificar por motivos profissionais, o fato de o projeto de Santa Catarina ser mais viável, até por envolver investimento menor, acabou "canibalizando" o gaúcho, por tirar mercado e rentabilidade. Mas oferece um consolo: se a Golar ganhar mercado no Rio Grande do Sul a partir de um terminal em Santa Catarina, poderá pensar em uma instalação menor em Rio Grande.
Embora a empresa acene com apenas cerca de 30% a mais de gás para o Estado com seu projeto, o secretário de Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos, avalia que pode atender ao menos parte da "rápida expansão que se vislumbra com a privatização da Sulgás:
— Dará um fôlego para consolidarmos a estratégia do Estado de buscar novos entrantes e novas infraestruturas de entrada.