Enquanto o Estado tenta ressuscitar um investimento de R$ 3 bilhões com base em gás natural, um projeto que pode ser visto como concorrente acena com reforço de abastecimento de 800 mil metros cúbicos diários para o Rio Grande do Sul. Os dois empreendimentos recuperaram visibilidade com movimentações em torno da concessão para a obra em Rio Grande e a oferta da Petrobras para venda de usinas térmicas, uma das quais em Canoas. Ao apresentar a oportunidade, a estatal mencionou a possbilidade de projetos de regaseificação na região.
Edson Real, diretor de negócios do Terminal Gás Sul (TGS), em São Francisco do Sul (SC), detalhou à coluna que há previsão de reforço de 15 milhões de metros cúbicos diários até 2022. O projeto prevê a distribuição dessa quantidade extra pela estrutura existente do Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol):
— Injetando 15 milhões de metros cúbicos em Garuva, na divisa com o Paraná, a gente consegue aumentar a capacidade da perna sul do gasoduto pelo aumento de copressão. Prevemos aumentar o fornecimento para o Paraná em 40% e, para o Rio Grande do Sul, em 35%, quase 800 mil metros cúbicos ao dia. sem mexer no Gasbol.
Esse aumento prometido para o Rio Grande do Sul, porém, não resolve todos os problemas de abastecimento de gás natural no Estado.
— Não é uma solução, mas é um alento. Abre caminho para uma nova chamada de capacidade, à medida que o mercado for reagindo. Nosso trabalho é colocar um terminal e aumentar a disponibilidade para o Rio Grande do Sul — pondera Real .
O TGS da Golar Power, join venture entre a norueguesa Golar LNG e o fundo americano Stonepeak, focado em infraestrutura. Essa empresa participa do Complexo Termoelétrico Porto de Sergipe I, que prevê a maior térmica a gás da América Latina, com 1,5 gigawatts de capacidade instalada. Também prepara um terminal de regaseificação em Barcarena (PA).
Para viabilizar o investimento previsto em R$ 400 milhões em Santa Catarina, a Golar Power conta com a compra de gás natural pelas três distribuidoras de gás do Sul, inclusive a Sulgás, em fase de privatização pelo governo gaúcho, e a concretização de uma térmica prevista pela Engie no norte de Santa Catarina.
O projeto em São Francisco do Sul inclui um navio convertido em planta flutuante de gás natural liquefeito e um pequeno gasoduto, de cerca de 30 quilômetros, que inclui um trecho submarino de dois quilômetros na Baía da Babitonga. O navio ficará a 300 metros da costa. Conforme Real, já tem autorização da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antac) e licença prévia. Faltam ainda a segunda fase ambiental, a licença de instalação, e a autorização da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para iniciar a construção.
A mudança no mercado de combustíveis provocada pelas descobertas de shale gas nos Estados Unidos tornou mais barata a importação de gás natural liquefeito, por navio, seguida de regaseificação para devolver o combustível a seu estado natural. A liquefação ocorre com a aplicação de alta pressão e baixa temperatura e torna possível o transporte em navios a grandes distâncias.
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