Na semana passada, a Petrobras surpreendeu o mercado com um "desinvestimento", ou seja, venda de unidades da estatal. Ofereceu a investidores quatro termelétricas abastecidas a óleo combustível, uma das quais em Canoas, ao lado da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap). Na descrição dos ativos em oferta, a Goldman Sachs, contratada pela estatal para realizar a venda, destaca a expectativa de que haja um projeto relacionado a gás natural liquefeito (GNL), com a necessária regaseificação, no Estado. Diz o material, uma espécie de prospecto de venda:
"Potencial ganho operacional na UTE Canoas com possibilidade de fornecimento de gás Operação da UTE Canoas deve ser significantemente favorecida com a expansão esperada da malha de gasodutos e / ou novos terminais de regaseificação
Os projetos devem destravar o fornecimento na região e possibilitar a operação a gás, mais flexibilidade para composições de negócios"
Isso ocorreu menos de uma semana depois da reativação do projeto de R$ 3 bilhões que prevê construção de uma usina térmica e uma unidade de processamento de gás natural em Rio Grande. Esboçado em 2008, no governo Yeda Crusius, foi aprovada em leilão público em 2014 e deveria ter começado a operar no ano passado. Inclui o recebimento de gás natural liquefeito (GNL), trazido por navios, e uma unidade de regaseificação, ou seja, para devolver o combustível a seu estado natural. Transformá-lo em líquido, por redução de temperatura e aumento da pressão, facilita o transporte, mas é necessário recuperar o estado gasoso para consumo.
O empreendimento em Rio Grande, porém, tem um rival de peso. Em Santa Catarina, a Golar Power Latam, de origem norueguesa, negocia a implantação do Terminal Gás Sul (TGS). No ano passado, tinha previsão de colocá-lo em operação no terceiro trimestre de 2021 A Golar já opera no Rio de Janeiro e em Salvador com navios que fazem regaseificação. O formato é o mesmo previsto em Santa Catarina. Para o Rio Grande do Sul, a implantação da Golar não é solução, porque haveria maior disponibilidade de gás, mas apenas substituiria o que já chega pelo trecho final do gasoduto Bolívia-Brasil, que tem capacidade limitada.
O reforço de abastecimento de gás no Estado é importante, também para a venda da UTE Canoas porque a térmica já está preparada para o uso desse combustível, mais barato e menos poluente. Na descrição da Goldman Sachs, é apresentada como "usina bicombustível (gás natural ou óleo diesel)" que "atualmente, opera apenas com óleo diesel devido a restrições logísticas na malha de transporte de gás natural". O projeto de Santa Catarina não resolveria essa restrição.
Na sexta-feira passada, em entrevista concedida por teleconferência que a coluna acompanhou, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou que, apesar de a venda de oito refinarias, entre as quais a Refap, estar suspensa, não houve desistências de interessados e há possibilidade de fechar algum contrato até o final deste ano. Em plena pandemia, a estatal também mantém o cronograma de outra venda no Estado: sua fatia de 50% na BSBios, que tem unidades em Passo Fundo e Marialva (PR).