Como estava escrito ainda no comunicado da reunião anterior, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu cortar mais 0,75 ponto percentual no juro básico, levando a taxa de referência da economia a 2,25% ao ano.
Ao contrário da reunião anterior, quando avisou quanto reduziria, desta vez o BC preferiu ser menos explícito sobre os próximos passos. Como a Selic ficou muito baixa, inimaginável há poucos meses, não caberão novas podas de 0,75 ponto percentual. Mas também não fechou a porta para novos desbastes mais discretos:
"(...) a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno."
Economistas interpretaram "pequeno" como uma nova tesourada de 0,25 ponto percentual, em vez do 0,50 que começava a ser cogitado diante dos indicadores dramáticos nos principais setores da economia.
Também chamou atenção, no comunicado, o excesso de otimismo do BC com os programas de crédito e de auxílio emergencial oferecidos durante a crise:
"Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada (...)."
Há consenso entre economistas próximos do governo que as linhas de crédito oferecidas até agora são insuficientes e/ou ineficientes. O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu essa realidade ao prometer, na semana passada, "desentupir os canais" para concessão de financiamento.
De lá para cá, o único novo anúncio foi que a Caixa vai começara a operar, depois de dois meses de suspense, a linha para pequenas e microempresas que inclui garantia do Tesouro Nacional. O total disponível é de R$ 3 bilhões. Parece muito, mas é quase nada diante da necessidade.
Ao comentar a redução da Selic, as entidades empresariais do Estado apontaram o problema. Para o presidente da Fiergs, Gilberto Petry, "apenas o corte da taxa Selic não tem sido suficiente para a melhora nas condições de crédito. O custo de captação mais barato às instituições financeiras não necessariamente tem significado redução de financiamento às empresas". Segundo o presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, "é fundamental desobstruir o canal de crédito urgentemente. Não adianta o crédito ser barato se ele não chega às empresas".