Pressionado pelo choque na economia provocado pelo coronavírus, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) voltou a cortar a taxa básica de juro. Em decisão unânime nesta quarta-feira (17), o colegiado reduziu a Selic em 0,75 ponto percentual, para 2,25% ao ano. Com a queda, a oitava consecutiva, a taxa renova a mínima histórica.
Em comunicado após a reunião, o Copom afirmou que "a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno".
Na visão de analistas, o texto sinaliza que nova redução é possível. "O colegiado deixa aberta uma porta para um corte adicional em menor magnitude em sua próxima reunião", comenta, em nota, o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.
Até o fim do ano, o Copom terá mais quatro encontros. O próximo está marcado para agosto.
Crise freia impacto
A Selic em nível baixo pode servir de estímulo à economia, por ser referência para as linhas de crédito no país. Contudo, analistas ponderam que, em meio ao avanço da pandemia, o corte não deve ser sentido com tanta força por consumidores e empresas.
As avaliações levam em conta o fato de que a covid-19 resultou em uma enxurrada de incertezas e prejuízos, incluindo aumento do desemprego e da inadimplência. Com mais riscos no horizonte, bancos tendem a incrementar exigências na hora de conceder financiamentos, lembra o economista Fábio Astrauskas, CEO da Siegen Consultoria. Ou seja, os efeitos da Selic menor tendem a ficar mais nítidos depois da fase aguda da crise.
— Há uma incerteza muito grande em relação à pandemia em todo o mundo, se teremos segunda onda de contágio ou não, por exemplo — diz Astrauskas, também professor do Insper. — Outra questão é a concentração bancária no país. Pouca concorrência não estimula a queda no juro — acrescenta.
O corte de 0,75 ponto percentual era aguardado pelo mercado financeiro. Economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez ressalta que, além da turbulência gerada pela pandemia, a perspectiva de inflação baixa estimulou a redução na Selic. O analista reconhece que a queda é "ofuscada" pela crise, mas entende que, se país reagir aos poucos, o juro menor tende a gerar benefícios com o passar do tempo.
— Existe uma defasagem da política monetária para a economia — frisa Sanchez.