O economista Manoel Pires avalia que o governo federal tem de acelerar os financiamentos de bancos públicos com taxas de juro reduzidas. A medida é necessária para dar fôlego às empresas durante a crise do coronavírus e, consequentemente, preservar empregos, destaca o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Como analisa o cenário para a economia brasileira?
A palavra que resume o momento é apreensão. A economia está paralisada. A incerteza é muito grande. Do ponto de vista de saúde pública, é inequívoca a necessidade de manter o isolamento. Agora, essa atitude só será mantida por período mais longo se houver plano econômico. Tem gente que precisa da renda do dia a dia para sobreviver. Sem solução para isso, o confinamento tende a perder apelo social.
Quais setores são mais abalados pela crise?
A crise bate muito em serviços. Há uma dificuldade do governo de reagir. Temos historicamente pouca maleabilidade para lidar com mudanças de contexto. Existe rigidez para aprovar leis no país. Há elementos que dificultam a ação do governo e podem gerar algum tipo de redução no bem-estar das pessoas.
Como analisa as medidas econômicas já anunciadas para diminuir perdas relacionadas ao coronavírus?
Vimos alguns avanços nas últimas semanas. Havia preocupação na forma como os trabalhadores informais passariam pela crise. O Congresso aprovou benefício de renda mínima. O desafio é fazer o dinheiro chegar à ponta, até eles. Agora, estamos muito mal na concessão de crédito.
Por quê?
Tem empresas que viram o faturamento cair para zero. A solução mais imediata para esse problema, e o que outros países já fizeram, é oferecer linhas de crédito para capital de giro. As anunciadas até aqui no Brasil são insuficientes. Bancos privados não entram em situações como a atual porque o risco é muito grande. O Banco Central anunciou taxa mais barata para negócios menores, mas algo ainda pequeno diante do tamanho da economia brasileira. Sem crédito, muitos negócios não vão sobreviver.
Além do maior acesso a crédito, quais são as outras medidas que podem ajudar?
O que servir para garantir renda é importante. Dá para ampliar o adiamento de impostos. Muitas famílias, por exemplo, têm planos de previdência complementar. Dá para pensar em reduzir o imposto para saques. Aí cairia o custo para as pessoas retirarem o dinheiro. Tem o FGTS, parece que o governo vai liberar recursos. A redução na jornada de trabalho é interessante também, com o governo recompondo parte do corte nos salários. O governo acerta ao deixar isso acontecer, principalmente quando há negociações coletivas. Se há apenas redução salarial, sem nenhum apoio, é aí que as empresas não vendem mesmo.