Se na indústria o tombo foi menor do que o temido, no comércio a queda veio maior do que a esperada. Ao despencar 16,8% no país e 13,1% no Estado, o volume de vendas no chamado varejo restrito, que exclui segmentos com números ainda piores, superou expectativas já pouco otimistas, de declínio de 11% na média. Acabou alimentando nova rodada de revisões para a perda no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.
Além de reforçar o consenso de que haverá corte de 0,75 ponto percentual no juro básico na reunião de quarta-feira (17) do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), aumenta a expectativa de nova poda de 0,5 em agosto, o que levaria a Selic a antes inimagináveis 1,75% ao ano.
Vitor Vidal, economista da XP Investimentos, esperava queda de 9%, quase a metade da que foi verificada. Pondera que as causas foram a alta menor (4,7%) do que a prevista (8,5%) nas vendas em supermercados e o desabamento de 60,6% no segmento de vestuário e calçados. Avalia que abril foi de fato o "fundo do poço". Para maio, prevê alta de 9,3% no varejo restrito e 9,7% no ampliado (que inclui veículos e materiais de construção).
Felipe Sichel, estrategista-chefe do Modalmais, tinha expectativa de queda de 12,1%, acima da média, e ainda assim foi superado. Avalia que o resultado mostra o "profundo impacto da pandemia" sobre o comportamento de consumo. Também aposta que abril foi o fundo do poço e prevê estabilização para maio.
André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, avalia que os dados anunciados nesta terça-feira (16) reafirmam a perspectiva de queda abrupta da atividade no segundo trimestre. Avalia que os dados já disponíveis do desempenho da indústria e do comércio projetam queda de 9% do PIB no período de abril a junho. Projeta apenas estabilização para maio e "alguma melhora" somente em junho.
Pouco depois da divulgação do dado do IBGE, o Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da FGV divulgou um estudo sobre o PIB com estimativa de queda de 10% no ano. Projeta recuos adicionais no terceiro e no quarto trimestres, mas em taxas menores, e prevê recuperação apenas a partir do primeiro trimestre de 2021. Conforme o estudo, disponível neste link, o cenário se aproxima de uma recuperação em "U", não em formato de "V", como ainda espera a maioria dos analistas.