Embora tenha sido o dobro da queda de 9% em março, o tombo de 18,8% na indústria em abril, anunciado nesta quarta-feira (3) pelo IBGE, ficou abaixo da médias das projeções. O que mais impressionou os analistas foi o comportamento do segmento de bens de capital, que inclui fabricantes de máquinas e equipamentos para a produção, que despencou 41,5%, e dos bens duráveis, que mergulhou 79,6%.
Para André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, esse declínio profundo aponta para um crescimento baixo no médio e longo prazos. A menor produção de máquinas e equipamentos tende a exigir mais tempo para que as linhas de produção voltem ao nível geral anterior.
– O fundo do poço não foi tão fundo assim – observa Renata de Mello Franco, economista do FGV Ibre, atribuindo a diferença entres as projeções muito mais pessimistas do que o resultado geral da produção industrial ao comportamento dos bens intermediários, que tiveram queda menor, de 14,8%.
Renata se baseia nas sondagens industriais com que trabalha na FGV para avaliar que, na média, abril deve ter sido, sim, o fundo do poço para a média, embora não necessariamente para todos os setores. Nos primeiros dados de maio, detalha, é possível ver sinais de estabilidade. Não que seja bom ficar parado no pior momento da indústria na história do indicador, mas diz que nada indica nova queda abrupta. Lembra que, embora a produção esteja sendo retomada, o ritmo de produção vai depender da demanda, que por sua vez está condicionada ao emprego e à renda.
É bom lembrar que, em março, menos de 15 dias foram afetados pela pandemia, enquanto todo abril muitas fábricas decidiram parar espontaneamente ou tiveram atividades suspensas por decretos públicos. Exatamente por isso, abril deve ser o fundo do poço da crise do coronavírus na produção.
Conforme o IBGE, os desempenhos de março e abril acumulam perda de 26,1%. O que se prevê para maio, quando a grande maioria das indústrias voltou a funcionar, ainda que parcialmente, é uma certa estabilização. O problema é que será uma parada em nível baixíssimo, praticamente em modo sobrevivência, se tudo der certo.
A expectativa de recuperação começa em junho, mas a velocidade vai depender muito das medidas de apoio adotadas pelo governo federal. Os ajustes nas linhas de acesso ao crédito já estão atrasadas, é preciso debater com seriedade a prorrogação do auxílio emergencial, ainda que em outras bases, como defende a equipe econômica, e também renovar o prazo da Medida Provisória 936, que permite suspender contratos e reduzir jornada e salário, para proteger emprego.