O tombo de 9,1% na produção industrial de março, medida pelo IBGE, ficou acima da média das projeções dos economistas. A queda é a mais profunda desde maio de 2018, quando a greve dos caminhoneiros provocou falta de insumos e parou muitas fábricas, causando queda de 11%. Como o IBGE transforma a variação da atividade em pontos, constatou que o nível atual voltou ao mesmo patamar de 2003, ou seja, é como se o país tivesse recuado 17 anos em um mês.
Dos 26 ramos pesquisados, 23 enfrentaram declínio. Um dos maiores foi no segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias, que despencou 28%. Foi resultado da parada de indústrias como as gaúchas Randon e Marcopolo. Queda maior só houve em confecção de vestuário e acessórios (-37,8%) e o bloco formado por couro, artigos para viagem e calçados (-31,5%). Os três únicos com sinal positivo foram impressão e reprodução de gravações (8,4%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (0,7%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (0,3%).
Os números da indústria são os primeiros dados concretos do impacto do coronavírus na economia. Na próxima semana, o IBGE vai informar os resultados dos setores de serviço (dia 12) e comércio (dia 13). O quadro das perdas ficará mais completo, mas analistas já estão considerando que o sinal vindo da produção fabril já condicionará projeções de queda mais forte no PIB de 2020.
Em final de abril, uma prévia da sondagem industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) já havia sinalizado um tombo forte para o setor, mas ainda eram informações preliminares. Muitos economistas estavam inclusive esperando a liberação desses primeiros dados consolidados para fazer estimativas para o desempenho da economia. Como havia muita incerteza – ainda há, mas ao menos agora existem indicadores claros –, os exercícios de projeções estavam sujeitos a revisões abruptas.
Um deles é André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, que havia renunciado a cálculos adivinhatórios. Agora, com o resultado de declínio de 23,5% em bens duráveis e 15,2% em bens de capital, avalia que são prováveis "quedas significativas nos outros ramos da atividade". Passou a arriscar estimativa preliminar de queda de 5% no PIB.
Nesta terça-feira (5), também foi anunciado o resultado da Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Medido em pontos, ficou em 28 em uma escala que vai de zero a cem. Segundo Marcelo Azevedo, economista da entidade, o nível medido em pontos é o mais baixo da série histórica, com queda em volume e disseminação (em todos os subsegmentos) "jamais registrados".