A 16ª revisão na projeção de queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 no boletim Focus, produzido pelo Banco Central (BC) com base em estimativas feitas por uma centena de empresas do mercado financeiro, levou a média para 6,25%. Como até março o declínio foi de 1,5%, não é difícil deduzir que a estatística vai piorar antes de melhorar.
Na sexta-feira passada, quando o IBGE anunciou o resultado do primeiro trimestre, as perspectivas pioraram não pelo resultado geral, que ficou dentro do esperado, mas pela queda mais acentuada no principal motor da economia, o consumo das famílias, de 2%. É bom destacar que esse resultado inclui menos de 15 dias de pandemia e de isolamento, os últimos de março.
Dois dos três meses do segundo trimestre já se passaram. Ainda dá tempo de tentar suavizar a queda no terceiro, que começa nesta segunda-feira (1º). As estimativas de queda para esse período começam em 9% e vão até inacreditáveis 15%. Foi um período marcado por dificuldades no acesso ao crédito, especialmente de pequenas e microempresas, problemas recorrentes no pagamento do auxílio emergencial e por uma sucessão de conflitos institucionais criados pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores.
Há uma variável de difícil controle na crise: o avanço do contágio pelo coronavírus. A única ferramenta para administrar é o isolamento social, que provoca efeitos colaterais na economia. Como fica claro à medida que as restrições vão sendo flexibilizadas, a proibição de funcionamento não é o único fator que afasta os consumidores. O temor da contaminação se estende para além das determinações de fechamento.
Há variáveis mais controláveis que ainda podem suavizar a queda assustadora prevista para o segundo trimestre. A principal é a correção das iniciativas de liberação de crédito. Se conseguirem atravessar o deserto do medo com os recursos mínimos para bancar seus custos fixos, as empresas sobreviverão, ainda que fragilizadas. Aperfeiçoar e estender as medidas de auxílio emergencial ajuda a dar oxigênio aos milhões que perderam a fonte de subsistência no período da pandemia. Os eventos do final de semana desencorajam expectativas de que a crise política seja domada, mas seria outra contribuição importante para frear a queda livre.
E um plano racional, organizado e equilibrado de retomada do investimento deve começar a ser preparado. No mesmo Focus que prevê queda de 6,25% em 2020, há projeção de crescimento de 3,5% para 2021. É preciso garantir que a maior quantidade possível de brasileiros esteja preparada para embarcar na recuperação e não se perca na travessia.